Das Caldas da Rainha com amor, os Cave Story preparam-se para lançar esta sexta-feira o primeiro longa duração. West, com reflexões sobre o mundo ocidental e a vida no oeste, oficializa os Cave Story como grande banda do novo punk-rock nacional.
O vocalista Gonçalo Formiga (na foto, ao meio), falou-nos da evolução da banda e de fazer música no Oeste.
Depois de um EP e de várias músicas lançadas isoladamente, este é o vosso primeiro LP, que já dá um tom mais formal. O que é que mudou nos Cave Story, desde as primeiras gravações até à edição do primeiro álbum?
Acho que essencialmente tentámos localizar melhor aquilo que queríamos fazer. As experiências anteriores, com o EP e as músicas que fomos lançando, foram isso mesmo – experiências – e agora quisemos perceber “ok, já dominamos uma linguagem, já sabemos dizer qualquer coisa com isto, vamos dizer qualquer coisa agora”. Aprendemos primeiro a falar, a tocar as coisas, e agora vamos tentar dizer qualquer coisa. Já dissemos coisas antes, mas agora sabemos o que é que estamos a dizer, acho eu.
O facto de terem um disco, com 12 músicas, também dá para experimentar coisas diferentes. Se calhar num EP com 5 música não dá para variar muito.
Dá, mas é mais fácil em cinco músicas não haver coerência se as cinco forem diferentes, do que em doze haver cinco totalmente diferentes, mas como há outras pelo meio que fazem a ponte, a coisa parece que ganha uma coerência natural, quando na verdade há músicas tão diferentes umas das outras como sempre houve nas nossas coisas até agora. Simplesmente tentámos ligá-las dumas para as outras, com coisas pelo meio. E acho que ficaram coisas de fora que não faziam tanto sentido, depois logo vemos o que fazemos com elas.
À chegada ao primeiro álbum, vocês sentem a evolução da banda?
Sim. Sentimos também na nossa maneira de ver aquilo que estamos a fazer. Se calhar ao início tinhamos uma vontade muito mais inocente de fazer as coisas todas e agora já começamos a pensar que podemos lançar três EPs, mas se calhar faz mais sentido lançar um, porque ninguém vai querer saber dos outros dois.
E sentes evolução na tua escrita de canções?
Eu sinto mais facilidade em fazer melodias, do que sentia ao início. Habituei-me a cantar, ao início tinha de fazer um esforço para cantar, agora tento esforçar o menos possível e as coisas saem de forma mais natural, e isso, quando estamos a fazer músicas, é bom porque sinto-me mais à vontade. E acho que instrumentalmente também, as coisas estão mais naturais, foi quase tudo ao primeiro take.
Apesar de se sentirem mais maduros, continuam a fazer as coisas com uma energia enorme, quase punk.
Sim. Essa questão, quase punk, eu nunca percebi por que é que nunca nos associaram mais ao punk, porque acho que foi uma coisa que nós sempre tivemos em mente, é isso que queremos fazer, chamem-lhe o que quiserem mas podemos chamar-lhe punk. E sempre pensámos “porque é que as pessoas dizem sempre rock, ou rock qualquer coisa, e não punk?”. E sim, com a experiência de tocarmos em muitos sítios e com o cansaço das coisas, a certa altura é tipo “ok, mais um concerto”. Mas nós tentamos que não seja assim, que não se torne uma coisa aborrecida. Aliás, a “Body of Work”, o single, é precisamente sobre isso, sobre como é suposto ser divertido isto tudo e é suposto estarmos a fazer uma coisa que, apesar de dar muito trabalho, temos que encontrar um ponto entre a diversão e o trabalho e o gostarmos de fazer as coisas genuinamente, porque só assim é que elas vão ter o valor que devem. Há aquela coisa de “quando as coisas se tornam trabalho, deixam de ser tão boas em termos artísticos, quando és amador às vezes as coisas são melhores”. Mas nós não conseguimos fazer isto de forma amadora, temos mesmo que dar o máximo, e isso torna-se trabalho.
Nessa linha, foram vocês próprios que produziram o álbum. Querem ter controlo total da obra, desde a primeira nota até mandarem o disco para a fábrica?
Sim, foi isso que aconteceu um bocado até agora, até mesmo o artwork e assim, fomos nós que fizemos tudo. Só que não é por mal, por não querermos ajuda de ninguém. Trabalhámos com o Luís Caldeira e com o João Brandão, em dois estúdios diferentes, na Valentim de Carvalho e no Sá da Bandeira, em duas músicas diferentes, e foram óptimas experiências – o resto do álbum foi todo gravado em casa. Mas foram boas experiências, primeiro porque percebemos que pode haver pessoas que nos conseguem ajudar e introduzir alguma ideia nova ou uma coisa de que nós não nos iríamos lembrar, ou mesmo em termos de possibilidades de estúdio e de material, etc. E também foi interessante para verificar as nossas capacidades de mistura – por exemplo, temos uma música que foi gravada com 2 microfones e temos outra que foi gravada com 15, e temos que as fazer soar parecidas no contexto do disco. Não estou a dizer que consigo fazer igual aos estúdios, mas estou a dizer que é possível fazer coisas a soar bem, com pouco, que é o que nós temos, neste momento. Com o mínimo de dedicação… Gosto da ideia do diy e de fazer as coisas, e daí talvez tenhamos sido até agora um bocado controladores com as coisas que queremos fazer.
O disco foi gravado numa casa no Oeste. Chama-se West. Podemos falar num mote, num conceito?
Sim. A coisa do oeste, Ocidental, e também Oeste de Portugal, pelo facto de nós vivermos nas Caldas da Rainha e se chamar Oeste àquela zona, foi um bocado um ponto de encontro que eu arranjei entre tudo, e pensámos que faria sentido para nome do álbum. É uma coisa de localização geográfica e de localização pessoal, de nós sentirmos “isto é onde nós estamos, os nossos problemas são estes, não são outros, e temos de falar sobre os problemas que temos”. O nosso problema é estarmos aborrecidos, realmente queremos fazer músicas mas há tantas coisas a distraír-nos, como é que nos concentramos a fazer música? Parece um problema muito ridículo, mas é o nosso problema, ocidental, é a nossa realidade e é um bocado parva, mas é sabermos que estamos dentro disso e não estamos a falar de coisas de vida ou morte, no nosso caso, não queremos tentar falar sobre mais do que aquilo que podemos e sabemos e conseguimos. E o que sabemos é isso, as parvoíces ocidentais. Por exemplo, há uma música que é a “Running With Baguettes”, de eu ver uma mulher a correr com baguettes, onde é que ela ia com pressa, onde é que ela podia ir, com pressa, a correr com baguettes no braço? E é um bocado por aí. E também estamos no Oeste da Europa, e há tantos países que têm mais facilidade em juntar-se, em termos musicais de bandas e assim, e de haver um circuito maior, e nós só agora estarmos a entrar para esse circuito. Não é nada muito sério, de vamos falar sobre o Ocidente, não temos essa pretensão. É mais uma piada. E há outra música que é a “Microcosmos” que é sobre como o Oeste, em nossa casa, está sempre tudo nublado, as pessoas acham que tem sol mas não tem, está sempre nublado.