Lá fora, luz (a lua cheia entornando-se sobre o Tejo). Cá dentro, escuridão (o antro negro do Village Underground). Os Noves Fora Nada jogando em casa, portanto, para apresentar o seu disco de estreia, Da Opulência ao Carvão. É a bateria que nos chama, determinada, sem se desviar, levando tudo à frente. A guitarra e o baixo entram depois, entrelaçados como um cesto de vime, decepando braços e pescoços com as suas lâminas eléctricas. Por fim, assoma a voz rouca de Jacinto, zangada, gritada, qual louco pregando o fim do mundo. Quatro rodas dentadas encaixadas na perfeição. Uma máquina perfeitamente oleada de rock’n’rollar.
Já conhecíamos o vibrante disco – Da Opulência ao Carvão saíra há uma semana – mas o habitat natural do rock’n’roll é sempre o de um palco, as colunas derramando crude e bagaço, tu e eu fazendo parte do ruído. Jacinto, em particular, torna-se gigante no calor do estrado, padecendo cada palavra que canta, abrindo sulcos de dor na sua cara, levando as suas frágeis cordas vocais ao limite, expiando os nossos pecados no seu suplício. Jacinto não canta, sofre; não interpreta, sacrifica-se. O roqueiro mais fadista que Portugal nos deu.
Cumprido o desígnio de tocar Da Opulência ao Carvão na íntegra, os Noves Fora Nada fecharam o concerto com uma música nova, a apropriada “Pedes Desculpa Por Ser Pouco”, um tema frenético, que não deixa prisioneiros, apenas água na boca pelo que virá a seguir. Uma grande banda só a é depois de passar o teste do palco. Os Noves Fora Nada mostraram-se enormes, agarrando o público pelos cornos. Só o rock salva!
(fotos Rui Gato)