Os Monkees são donos de uma distinção pouco invejável, de serem a primeira boys band da História. Nasceram para ser um produto televisivo na primeira metade dos anos 60, com um programa acerca de quatro rapazes divertidos e saudáveis que estavam numa banda de rock n roll. À série seguiram-se discos e até digressões. O facto de as músicas não serem feitas por eles não era assunto então. Na verdade, o sucesso foi tanto que, a meio da segunda metade dos anos 60, vendiam mais nos EUA que os Beatles e os Stones. Juntos.
Mas estamos aqui para falar de música, e a verdade é que esses primeiros discos dos Monkees tinham momentos de antologia pop. A sua sonoridade era ligeira, vagamente rockada, mas sempre bem comportada, como uns Beach Boys mais hippies e que não soubessem surfar.
Agora, tantas décadas depois, os três sobreviventes do quarteto original dão mais uma volta na roda da fortuna, e regressam com um disco que, surpreendentemente, é o seu melhor desde os anos 60.
Tal como no passado, também aqui os temas têm origem diversa: há músicas do passado do grupo que nunca tinham sido editadas; há vários temas de produção própria; há o recurso a compositores profissionais que já no passado haviam colaborado com os Monkees; e há fãs de hoje em dia que não perderam a oportunidade de colaborar com estes macacos pop (Paul Weller e Noel Galhagher oferecem a “beatlesca” “Birth of an Accidental Hipster”, Ben Gibbard dos Death Cab For Cutie dá “Me & Magdalena”, por exemplo).
O resultado é um disco pop muito fresco e estranhamente autêntico. Não sentimos aqui o efeito manta-de-retalhos nem notamos demasiado o dedo dos produtores. É um álbum de Verão que parece ter sido, de facto, gravado nos anos 60, com um cheirinho a hippie bem comportado. Na verdade, estamos perante um grupo de septuagenários num último esforço de leveza, ainda que não necessariamente de relevância.
Tal como os Beach Boys regressaram em 2012 com o óptimo mas completamente ignorado That’s Why God Made the Radio, também aqui os Monkees fazem o seu verdadeiro regresso, que fica a léguas dos discos falhados de tentativas anteriores. Uma cambada de velhotes a cantar a inocência e a descoberta? Talvez, e talvez olhando para trás com a saudade de quem por lá passou.
Ouça-se “Good Times”, a rockalhada que abre o disco, ou a pérola de pop solarenga “You Bring the Summer”, e talvez alguém consiga ignorar os preconceitos e perceber que pode ter encontrado aqui a banda sonora ideal para o Verão de 2016.