Quem me conhece ou segue há mais tempo já me ouviu dizer isto: “actualmente é na electrónica que acontecem as coisas mais interessantes” no que toca à inovação musical.
Não sou propriamente um consumidor “hardcore” de música electrónica, no sentido das suas derivas mais agressivas (p.ex. techno ou trance), mas gosto muito de house music e dos seus derivados soft – descontando as ramificações para o chill out, género para o qual já perdi a paciência.
[isto de classificar a música em “géneros” tem o seu quê de irritante e prega-nos rasteiras, mas não há volta a dar, temos de dar nomes às coisas para sabermos minimamente (?) do que estamos a falar – ou ao menos, para permitir uma pesquisa no Google sobre o assunto].
No epicentro desta conversa está aquele que é para muitos o actual hub europeu desta tal “inovação musical”: a cidade de Berlim. Esta magnífica metrópole carrega o peso da história que se sabe, mas vive muito para além disso. E no que diz respeito à musica electrónica é, desde os anos 70, uma das suas principais escolas. Desde há 40 anos, portanto (ler “música electrónica” e “40 anos” na mesma linha chega a ser estranho).
Já lá estive, e partilho convosco que a minha maior frustração nessa visita foi não ter tido a oportunidade de me perder num daqueles clubes nocturnos onde acontecem coisas pela primeira vez, onde emergem os artistas/produtores/Djs, onde aparece algo de novo, ao vivo e a cores. Mas a vida segue, venham de lá os discos.
A última maravilha electrónica minimal que me chegou aos ouvidos foi o LP II dos Moderat. Eles são Sacha Ring (Apparat), Gernot Bronset e Sebastian Szary (Modeselektor). Do cruzamento destes dois projectos berlinenses resulta o nome, mas não só, nasceu ali qualquer coisa nova, polida, laminada. Ou seja, é uma reunião que resulta bem, porque diferente. Este II (segundo álbum) é uma sucessão de camadas, som e voz e ambientes, que começam com ritmos (arrisco a dizer) pop e terminam em excursões sombrias e numa batida difícil de acertar.
II dos Moderat é um disco que cresce, que se descobre. Com auscultadores e depois nas colunas grandes, na rua e em casa, é sempre a subir, como só o que é verdadeiramente especial consegue provocar em nós. É tão particular que à segunda audição já tinha conquistado a entrada directa para o meu “top 10” do ano.
O meu computador diz-me que já ouvi este disco 20 vezes. Nos tempos que correm (de tão fácil acesso, variedade e abundância), se este não é um Grande disco, então não sei o que é.