Não me ocorre forma muito diferente de o dizer… os britânicos These New Puritans são surpreendentes. Quer se goste do estilo, da evolução, ou não. E é também, diria, incontestável o arrojo da banda dos irmãos Barnett, o que tem levado a que cada um dos três álbuns seja tão diferente entre si, sobretudo este último, que é como que uma viagem pela experimentalidade, crueza da música. Mais uma vez, quer se goste, quer não.
Field of Reeds não é um álbum consensual, ou fácil de assimilar à primeira ou à segunda audição, nem, admita-se, com mais audições, mas alguns críticos já o classificaram como um dos melhores deste ano.
Para mim, que fui cativada pelos These New Puritans sobretudo pelo power de “Elvis” (do primeiro álbum, de 2008), este “campo de juncos”, canavial, por onde serpenteiam as longas nove músicas, foi um caminho percorrido com ouvido desconfiado e pé ante pé…
Há perfeccionismo, num álbum onde se sente nomeadamente a presença do jazz, e ao longo do qual vai fazendo-se ouvir a voz da portuguesa Elisa Rodrigues.
O primeiro tema do terceiro disco da banda britânica, “This Guy’s In Love With You”, soa como ao despertar do sono, de um sonho, em que está a ouvir ao longe uma voz, por vezes algo incompreensível, distorcida, numa música quase de embalar. Acorda-se com “Fragment Two” e, ao terceiro tema, a sensação é a de como estar a deambular por uma floresta (enquanto ouvia o álbum lembrei de “Twin Peaks” pelo sombrio e misterioso, não tanto por uma sensação de medo).
Field of Reeds soou-me a uma viagem pelo abstracto, pela austeridade (aqui no bom sentido!), que faz quase com que pareça – como alguém escrevia – que ouvimos os músicos respirar entre os arranjos instrumentais, os murmúrios e o cantar de Barnett e Rodrigues.
O elenco musical passa ainda por músicas como “V (Island Song)” e “Organ Eternal” e termina com o tema que dá nome ao álbum, num sentimento de retorno ao descanso, ao sono… “Field of Reeds” embala, quase fechamos os olhos… depois de serpentearmos, dançarmos em rodopios, por vezes quase levitarmos, na viagem por uma floresta sombria, intensa, labirinto de emoções.