Margarida Campelo juntou os amigos e fez “Faísca e Chavascal” na passada quinta feira no B.Leza, onde confirmou que merece um lugar no centro do palco
O nome de Margarida Campelo está longe de ser desconhecido para aqueles que estão minimamente atentos ao que se tem feito na música portuguesa nos últimos anos. Tendo feito parte de projetos como Julie & the Carjackers, Real Combo Lisbonense ou Minta & the Brook Trout, temo-la visto mais recentemente nos Cassete Pirata, ou como voz principal das canções de Bruno Pernadas. Porém, apesar da presença assídua nos palcos lusitanos e da sua clara versatilidade, desdobrando-se em vários instrumentos e géneros musicais, ainda não a tínhamos podido ver num concerto em nome próprio, a tocar canções suas. Como ainda existe alguma justiça no universo, essa falha foi colmatada na passada quinta-feira no B.Leza, onde Margarida Campelo estreou ao vivo o seu primeiro álbum a solo, Supermarket Joy, lançado este ano pela Discos Submarinos, editora de Benjamim que cumpria, no dia seguinte, 1 ano de existência.
O nome no bilhete não deixava dúvidas, estávamos ali para ver Margarida Campelo e mais ninguém. O ambiente cor-de-rosa-tropical do clube B.Leza também parecia ter sido escolhido a dedo, era o cenário perfeito para a pop espacial de Supermarket Joy. Enquanto os mais atrasados que ainda se concentravam junto ao bar a cumprimentar amigos e a pedir as suas bebidas, o som suave de “Maegaki”, primeira faixa do disco, servia de chamada para junto do palco. Lá em cima estavam já Raquel Pimpão nos teclados, António Quintino na guitarra e João Correia na bateria, tudo caras conhecidas de outras andanças, e, claro, Margarida Campelo, num muito merecido lugar central, também por detrás de teclados. Campelo rodeou-se de amigos para fazer o disco, que nos disse ter saído exatamente como queria e ter sido feito com as pessoas que queria, e trouxe essa energia de amizade e colaboração para a sua estreia no B.Leza. Rodeada de amigos cujos talentos admira e que, em troca, admiram o talento dela, tanto em cima do palco como na plateia, tudo estava pronto para a celebração.
Supermarket Joy foi tocado na íntegra e por ordem (até porque Margarida Campelo não tem (ainda) mais canções para mostrar). “Mapa Astral”, segundo single de apresentação, trouxe o primeiro momento alto com a entrada de Bruno Pernadas, que produziu o disco, para ajudar na guitarra. Sem pausa para descansar seguiu-se “Faz Faísca e Chavascal”, a primeira canção que ouvimos de Margarida Campelo a solo. Joana Campelo, irmã e também colega, juntou-se a Pernadas em palco para ajudar nos coros do refrão e normalizar o uso de óculos de sol dentro de portas. As canções que em disco soam impecavelmente pensadas e executadas, não fossem todos os intervenientes músicos exímios, ganharam no B.Leza mais corpo e mais cor, prolongadas em pontos estratégicos para dar lugar a solos e a improvisos e assim criar o ambiente de uma grande jam session dançante.
Feita a devida apresentação da banda, a festa continuou e ouvimos “Love Will Never Be Enough”, bela canção com letra de Francisca Cortesão (mais uma amiga talentosa) e “Maggie”, que nos foi apresentada como “uma homenagem a mim própria, porque eu mereço”. Anúncios de champô à parte, ninguém ali presente levantou nenhuma objeção à afirmação arrojada e, mesmo que levantasse, a canção seguinte conseguiria com certeza convencer os mais céticos. Para tocar “Aura de Panda”, outro ponto alto do álbum tornado ainda melhor por ser tocada ao vivo, Campelo voltou a chamar ao palco Bruno Pernadas e Joana Campelo, bem como Tomás Marques para acompanhar no saxofone, e o resultado foi uma explosão extática de pop colorida. Numa excelente demonstração dos talentos de todos os músicos (Pernadas presenteou-nos com um fantástico solo), dançámos e cantámos com “Maggie”, sentindo-nos, de repente, também parte daquele núcleo de gente talentosa.
Depois de uma pausa obrigatória para agradecer a todos os que contribuíram para aquela grande festa se concretizar, Margarida Campelo despediu-se com “Love Ballad”, a última faixa do disco e a primeira canção em que pegou quando começou a entreter a ideia de gravar algo em nome próprio. Tendo mostrado as 14 faixas do seu primeiro álbum, a miúda que “só queria ser a Whitney Huston” ainda voltou ao palco, chamada pela plateia que ainda não estava cansada de a acarinhar, para um encore onde nos presenteou com uma canção nova (que só as autoras, a própria e as amigas Beatriz Pessoa e Ana Cláudia, tinham ouvido) e com um bis da excelente “Faz Faísca e Chavascal”, onde pudemos dançar novamente.
Margarida Campelo é a front woman que sabe reconhecer quando precisa de ajuda para concretizar a sua visão, rodeando-se das pessoas certas, mas que não deixa que isso a impeça de assumir um mais que merecido lugar de destaque, sem medo de dizer “porque eu mereço”. Que bonito foi ver a sua estreia e celebrar com ela a música e a amizade, tudo em tons de cor-de-rosa. Que seja o primeiro de muitos concertos, porque ela merece mesmo. Que se faça mais faísca e chavascal!
Fotografias: Vera Marmelo