Os Glockenwise vieram a Lisboa apresentar o seu recente disco, Gótico Português, num concerto que deixou uma Culturgest totalmente rendida ao grupo de Barcelos.
Comecemos pelo que não entendemos – é um concerto de uma banda rock certo? Então porque raio está um tipo à entrada a indicar-nos o lugar? Porque raio nos está a dizer para sentar nesta cadeira? Algo não está a bater certo nesta equação e o cérebro está com dificuldades em lidar. As luzes apagam-se, começa um filme no ecrã de fundo, estamos num cinema e já tudo faz sentido. O documentário que nos mostra a entrevista a Rosa Ramalho é uma delícia, cinco minutos onde fica explicada toda a portugalidade, sem ser necessário mais qualquer artíficio.
No fim do mesmo, sobem ao palco as seis figuras que nos conquistarão aos primeiros acordes. Nuno, Rafa, Rui, Cláudio, o núcleo dos Glockenwise, trazem consigo Gil Amado para guitarra e coros e Sérgio Bastos para os teclados e lançam-se a “Vida Vã”, canção que encerra o álbum em apresentação e que é, nas palavras do nosso escriba Ricardo Romano, “uma melodia soterrada na neblina de guitarras, sonhadora e escapista como uma miúda triste à janela”. Logo a seguir, Nuno informa o público (como se fosse necessário…) que os Glockenwise, apesar de já levarem uns aninhos de carreira, ainda têm “Muito para Dar” e aí vamos nós a Plástico, até agora considerado a obra-prima dos Glockenwise. Com Gótico Português, esse debate ficou mais complexo, dizemos nós.
Irrepreensíveis em palco, a vontade de nos pormos em pé e irmos lá para a frente vai ficando difícil de controlar, sobretudo quando arranca “Lodo” uma das minhas preferidas do disco, já cantada em contínuo por grande parte do público, “que importa, que importa, que importa?”. Pelo meio das canções, houve tempo para a história do primeiro concerto dos Glockenwise em Lisboa, no extinto Cabaret Maxime, contada em versão yada, yada, yada, deixando a parte mais importante de fora, e aguçando a curiosidade de todos.
Todas as canções de Gótico Português foram tocadas, entrecortadas com algumas do já acima referido Plástico (ver setlist mais abaixo), sendo que importa realçar o golpe de marketing mais brilhante que vi nos últimos tempos – segundo nos explicou Nuno Rodrigues, a banda é feita também de erros e percalços e quis partilhar com o público mais um: o plano era terem, ali na Culturgest, vinis de Gótico Português em primeira mão para venda, mas a prensagem não correu bem e tiveram de mandar parar a mesma ao fim da produção de 100 cópias, que ficaram, supostamente, com um ruído de fundo quase imperceptível. E que melhor fazer com essas cópias do que colocá-las numeradas, a preço de saldo, à porta de um concerto que a todos conquistou? Venderam-se que nem pãezinhos quentes, foi o que foi, muitos deles até autografados.
Um ponto final para destacar a canção que encerrou o concerto, “Calor”, reinvenção de “Heat”. Sentiu-se, e bem, o calor nas almas de quem ali estava.
Aqui no Altamont a devoção aos Glockenwise era, é, e continuará a ser enorme, como mencionado num recente episódio de Rádio Clube Altamont, e este concerto, sublime em todos os sentidos, serviu para cimentar esta nossa devoção ao rock, a Barcelos, aos Glockenwise.
Setlist:
Vida Vã
Muito para dar
Lodo
Natureza
Moderno
Margem
Corpo
Água Morrente
Dia feliz
Gótico Português
Besta
Encore:
Deixar Ferver
Bom rapaz
Calor
Fotografias: Vera Marmelo