Os galeses Manic Street Preachers são um caso especial nos caminhos da Britpop. Nasceram do punk, navegaram géneros e amplas águas musicais até aos dias de hoje e, nunca sendo um total fenómeno crítico e comercial, sempre foram uma banda muito respeitada e valorizada.
Everything Must Go, de 1996, é essencial no percurso de James Dean Bradfield e amigos. Foi o quarto disco de originais dos Manics, o primeiro a ser gravado sem o guitarrista Richey Edwards, que havia desaparecido em parte incerta um ano antes. Foi o disco do salto para a primeira linha dos Manic Street Preachers: o lado mais punk e rude ficou grosso modo para trás, mas, aqui, o grupo não abandona o rock – antes conjuga com sapiência momentos mais introspetivos, instrumental e liricamente, com explosões e gritos do Ipiranga.
«A Design For Life» e «Australia». Estes foram os temas mais difundidos de Everything Must Go, mas os méritos desta empreitada são maiores: a elegância pop de «The Girl Who Wanted to be God», por exemplo e a fúria rock’n’roll – a recordar os tempos anteriores – de «Kevin Carter» são exemplos de um disco que pinga música por vários lados e em diferentes canais, mas cuja água advém de toda uma mesma nuvem de intensidade e dramatismo.
Os Manics são um porto seguro da pop britânica. Ainda vivem, lançaram este ano o 12.º álbum de originais e se nem todos chegaram à eternidade, o bom senso força-nos também a dizer que em todos há bons momentos, letras, guitarras, bom gosto pop. E Nicky Wire será sempre um dos nossos tipos preferido da britpop. Grande banda que por vezes nos esquecemos o quão boa é.