Em Setembro de 1995, em pleno estado de graça proporcionado por Parklife e pouco mais de um ano após o seu lançamento, os Blur apresentam o quarto álbum no meio do furor mediático que se tornou conhecido como a Batalha da Britpop, travada contra os Oasis, com armas como insultos em entrevistas e alterações de datas de lançamento a provocar colisões.
The Great Escape aparece como outra face de Parklife: onde este é mais celebratório da englishness contemporânea, The Great Escape apresenta um ponto de vista mais cínico, sarcástico, por vezes gozão ou melancólico, sobre o quotidiano suburbano e personagens não propriamente adoráveis. Do casal fetichista de «Stereotypes» até ao betinho insuportável de «Charmless Man», passando pelo financeiro de sucesso mas desiludido de «Country House», o maçon de virtudes públicas e vícios privados de «Mr. Robinson’s Quango» ou o companheiro apalhaçado de saídas à noite «Dan Abnormal» (alter ego / anagrama de Damon Albarn).
A temática da solidão e distanciamento aparece frequentemente, mas torna-se mais notória em temas mais lentos como o acústico «Best Days» (que não é crime nenhum comparar tematicamente ao projecto The Good, The Bad and The Queen, que surgiria mais de 10anos depois) ou o épico orquestral «The Universal» (que começou como um tema ska, tentem imaginar se conseguirem), uma das obras-primas dos Blur e habitual brinde de encore nos concertos.
Sonicamente, e além do já citado trabalho orquestral em «The Universal» (e também em «Ernold Same»; um primo afastado de «Arnold Layne»?), há espaço para mais experimentações fora do espectro guitarra-baixo-bateria, como os sintetizadores que dão o mote a «Stereotypes», «Fade Away», «Entertain Me» ou a balada electrónica «Yuko and Hiro», que encerra o álbum.
Em 2007, Damon Albarn incluiu The Great Escape na lista de maus álbuns que gravou, juntamente com Leisure. Não acreditem nele. Nenhum álbum onde estivesse «The Universal» seria mau, e este ainda tem muitos outros pontos altos.