In Through the Out Door é um disco lamentável. Tudo aquilo que é grande nos Led Zeppelin é pequeno nesta sua última obra.
Primeiro crime: a traição ao rock. Os Led Zeppelin não são uma banda qualquer, são os inventores do rock moderno e musculado. Ora, In Through the Out Door é um album flácido e “apopalhado”, que nada tem de rock. Mesmo nas poucas canções decentes, como a vulnerável “All My Love”, são os sintetizadores de John Paul Jones que dominam. Perdoem-me o puritanismo mas sem guitarras no centro não há rock.
Segundo crime: a traição aos riffs. A centralidade dos riffs é um dos grandes legados dos Led Zep: o coração de clássicos como “Whole Lotta Love” e “Immigrant Song”. Pois bem: quase não há riffs em In Through the Out Door. E nos raros temas em que aparecem, como em “In the Evening”, são esquecíveis e insonsos.
Terceiro crime: a traição aos contrastes. A dinâmica entre leveza e peso é outra das heranças que os Zeppelin nos deixaram. Lembrem-se, por exemplo, do imortal “Ramble On”, que começa em modo delicado e acústico até explodir no refrão. In Through the Out Door não tem a vitalidade destas forças de choque, mantendo-se sempre previsível e constante.
Quarto crime: a traição aos blues. Ninguém enxertou o blues e o rock com tanta elegância como os Led Zeppelin. O colosso “Since I’ve Been Loving You” fala por si. Acontece que quase não há blues em In Through the Out Door. Não será por acaso que o seu tema mais bem conseguido, “I’m Gonna Crawl”, é justamente aquele que mais vai beber ao blues.
Quinto crime: a traição ao espírito de corpo. Os Zeppelin são uma banda invulgarmente coesa. Nenhum dos quatro fabulosos ofusca os demais. Este pacto de sangue é aqui traído. Tudo é soterrado por debaixo dos sintetizadores de John Paul Jones. O junkie Page é de uma discrição criminosa. O bêbado Bonham desaparece do processo de composição. A voz de Plant aparece frágil e envelhecida.
Claro que nada disto é argumento. Uma banda pode reinventar a sua estética com bons resultados (os Radiohead em Kid A, por exemplo). Ora não é isso que acontece em In Through Out the Door. O que falta ao último disco dos Zeppelin não é, então, identidade. As coisas são mais simples do que isso: falta, simplesmente, inspiração.
É uma pena. A melhor banda de rock’n’roll de sempre merecia acabar de outra maneira.