Glamour, romance, melancolia, nostalgia, doçura e esperança invadem a melodia experimental deste álbum. Eve Babitz escreveu: “Women want to be loved like roses. (…) They want to haunt.” É com a mesma doçura e agressividade que Lana nos prende ao botão de repeat.
Depois de nos fazer esperar dois anos após a edição de Blue Banisters, foi lançado, este ano, o mais recente álbum de Lana del Rey, Did you know that there’s a tunnel under ocean blvd. O nono disco da cantora norte-americana tem 16 faixas, e conta com colaborações de Jack Antonoff, John Batiste, Father John Misty e muito mais.
Nas canções onde vive a nostalgia, Lana dedica-os à sua família. “The Grants” é assombrada pela dedicatória ao seu tio, David Grant, que terá falecido ao escalar as Rocky Mountains, no Colorado. As letras “I’m gonna take mine of you with me” são uma leve paráfrase do hit “Mountain High”, de John Denver, e reluzem na forma como as nossas memórias perduram no tempo.
“Grandfather please stand over the shoulders of my father while he’s deep-sea fish” conta com a presença do pianista Riopy e embala-nos num mix de transformação e esperança.
Desprendendo-se de um passado turbulento, a artista assume controlo sobre a sua identidade artística. Desde do lançamento de um dos seus primeiros álbuns, Born to die, que críticas invadem as suas publicações. Lana responde, “I know that they think that it took thousands of years to put me together again like an experiment; Some big man sewing Frankenstein black dreams into my songs.”, àqueles que tomam o seu percurso musical como um produto fabricado para as massas, um diamante em bruto sem substância.
De todas as músicas destaca-se, ainda, um dos singles lançados em fevereiro, “A&W”
(diminutivo para american whore), onde uma balada acústica se funde com uma batida enérgica. Como o título alude, e algo que, curiosamente, passa despercebido, a música é uma feroz crítica à rape culture; “If I told you I was raped do you really think that anybody would think I didn’t ask for it?” O próprio produtor, Jack Antonoff, partilha a opinião geral do público, sublinhando esta música como uma das melhores.
Não poderia deixar de mencionar “Paris,Texas” e “Kintsugi”. A primeira é uma possível referência ao filme de Wim Wenders, lançado em 1984, titulado com o mesmo nome. Tanto o filme como esta música contam a deambulação em busca de algo, o paradoxo infinito entre uma esperança por um futuro, ainda longínquo, e um passado tão reconfortante como uma chávena de café num dia chuvoso.
“Kintsugi”, por sua vez, remete para a antiga tradição de emendar pratos partidos com partículas de ouro. Como diria Hemingway “We are all broken”, mas Lana relembra-nos que nunca sabemos o dia de amanhã.