L.W. é mais um óptimo disco a provar que os King Gizzard são a banda rock mais excitante da actualidade.
Já não há muita palavras para descrever os King Gizzard and the Lizard Wizard, nem energia suficiente para os acompanhar. É fácil não ter consciência de que já andam nos dez anos de carreira, continuando a ser vistos como “aqueles putos malucos da Austrália”. E é fácil meter-lhes o selo de “muita parra e pouca uva”, pela sua produção absurda, com mais de 15 discos por sua conta. Mas começa a ser altura de se reconhecer o evidente: são a melhor coisa que aconteceu ao rock em muito, muito tempo.
Em ano de pandemia, o ritmo dos King Gizzard abrandou, o que quer dizer que “apenas” fizeram um disco em 2020 e outro em 2021 (para já, que com eles nunca se sabe). Na verdade, esses dois discos são parte do mesmo, como um álbum duplo editado dividido em duas partes, pegando nas iniciais do estranhíssimo e longuíssimo nome da banda. Depois de K.W., no ano passado, chegou este ano este L.W., que fecha o capítulo. É difícil avaliar este último sem meter ao barulho o anterior, portanto.
Estes dois trabalhos parecem ser uma espécie de resumo depurado de tudo o que fizeram até aqui. A raiz continua a ser o rock, o psicadelismo, mas incorporando tudo e mais um par de botas na receita, como foram fazendo de disco para disco: prog, heavy-metal, folk, stoner, doom, pop, toques de jazz e pozinhos de orientalismo, e isto não chega para cobrir tudo.
L.W. é um bom exemplo, e esta dupla de discos uma boa porta de entrada para quem tiver andado a dormir e queira saber quem são, afinal, estes speedados e indestrutíveis australianos. Há por aqui um pouco de tudo isso, embora o tom dominante seja o bom e velho rock. Tudo aqui tresanda a um profundo amor aos clássicos e ao poder redentor de uma guitarra; o riff é a mãe e o pai de tudo, ajudado pelo ritmo sempre acelerado, sempre em movimento, sempre em busca, sempre correndo a estrada que, desde os anos 50, fez da electricidade a poeira por onde o rock vive e se renova.
Face a outros discos, as diferenças são sobretudo as influências dos riffs orientais, a lembrar o rock psicadélico turco, e o regresso da presença das afinações microtonais que tão bem a isso se prestam. São nove músicas, pouco mais de 40 minutos, e quando acabamos saímos entusiasmados, suados, a cheirar a cerveja e a gasóleo, e possivelmente a adorar o demónio.
O último tema de L.W., “K.G.L.W.”, é o mesmo que o primeiro de K.G., apenas com roupagens diferentes, como uma porta que abre e outra que fecha. Ouçam-se estes oito minutos e meio finais, e quem quiser perceber apanha tudo.
Este não é necessariamente o melhor disco de King Gizzard: cada fã nomeia um diferente, e nós temos acima de todos o fabuloso Paper Mâché Dream Balloon, de 2015. Mas é mais um disco francamente bom de quem não deu um tiro ao lado apesar da velocidade absolutamente alucinante das suas edições.
Mais uma prova, se tal fosse preciso, que os King Gizzard and the Lizard Wizard não são só a mais excitante banda de rock da actualidade. São também possivelmente a melhor.