O título do novo disco do teclista e produtor californiano é uma infeliz premonição.
Matt Martians nunca quis ser o centro das atenções. A qualidade do seu trabalho, apesar de inegável, é apenas reconhecida pelos ouvintes mais atentos, que se dão ao trabalho de ler as fichas técnicas dos discos: The Internet, Tyler the Creator, The Jet Age of Tomorrow; o seu currículo como sideman é extenso mas, a começar em 2017, a sua promissora carreira a solo começou. The Drum Chord Theory é um pedaço delicioso de R&B psicadélico, e a maneira perfeita de mostrar ao mundo a sua idiossincrasia. Dois anos depois, brindou-nos com The Last Party, um disco mais curtinho e ressacado mas com o mesmo charme de sempre.
Estamos em 2021 e parece que o marciano decidiu descer à Terra. Não podia ter escolhido uma altura pior; o mundo não está propriamente num estado muito convidativo e isso parece ter influenciado o músico: Going Normal é um disco apático, completamente desprovido da personalidade que tornou os seus discos anteriores tão contagiantes. Ao longo dos seus parcos vinte e um minutos, o ouvimos a fazer aquilo que ele sabe fazer melhor mas parece que ele não está lá ou que o forçaram a cantar por cima de Matt Martians-type beats.
É uma sensação estranha, a de ouvir algo tão familiar e que remete para algo que adoramos e, ao mesmo tempo, sentirmo-nos completamente indiferentes à sua existência. Talvez se possa atribuir a qualidade deste disco às circunstâncias difíceis em que vivemos, e se assim for, aguardo que Matt Martians volte a seguir a sua musa saturnina. Por aqui, não há nada de jeito para ver e, pelos vistos, para ouvir.