Não é fácil escrever ou avaliar com imparcialidade os trabalhos de bandas ou artistas de que gostamos de uma forma (quase) incondicional. O motivo é óbvio: a emoção que nos liga à música facilmente se apodera da nossa capacidade de discernimento. Por outro lado, à responsabilidade acrescenta-se o gozo, por isso as linhas que se seguem são o resultado de uma escuta próxima, com sentimento.
Em novembro de 2010, aquando da última passagem do colectivo canadiano Broken Social Scene por Portugal – gosto de lhe chamar “colectivo”, porque são sempre muitos e diversos – tive a oportunidade de entrevistar Kevin Drew, seguramente o elemento mais mediático e o seu grande impulsionador. Menos de um ano depois, em meados de 2011, a banda suspendeu a actividade, e os seus membros prosseguiram as suas carreiras a solo e noutros projectos – Brendan Canning, co-fundador dos Broken Social Scene, mantém uma actividade “a solo” interessante, e tem um belíssimo disco editado em Outubro de 2013 (You Gots 2 Chill), que recomendo.
Kevin Drew lançou no mês passado o seu segundo álbum a solo, Darlings, sete anos depois de Spirit if…. É um disco mais maduro, fruto da experiência de vida que ele tanto valoriza, e talvez afinado pelas emoções que decorrem do processo criativo que ele faz questão de cultivar. É um álbum onde reconhecemos as melodias e as temáticas características dos Broken Social Scene: o amor, o sexo, os desvarios da vida, o desprendimento romântico. E com a habilidade do costume, consegue falar de sexo e construir uma melodia que mais parece uma canção de embalar. Típico e ilustrativo.
Como seria de esperar, Darlings foi também o pretexto para se fazer rodear dos amigos do costume: Dean Stone dos Apostle of Hustle, Dave Hamelin dos The Stills, e Leslie Feist (membro itinerante dos BSS e sua ex-namorada) canta em “You in Your Were”, uma das canções mais bonitas do disco.
Não sei se Darlings é melhor ou pior que Spirit If…, nem isso tem grande importância. Apenas consigo dizer que é um Kevin Drew sete anos mais velho e experiente, soft-electro-pop-indie-rock (whatever) da melhor cepa. Entrada directa para a lista dos melhores discos do ano.