Quando saiu o disco de estreia dos Kaiser Chiefs, a crítica desvalorizou a banda de Leeds e disse: “é só mais uns indies.” Hoje, enchem estádios e discotecas com hinos, “la, la, las”, riffs reconhecíveis ao primeiro dedilhado, num disco que arranjou o seu espaço na história da música britânica.
No nosso dia a dia, é difícil ver com clareza qual será a magnitude e impacto que uma determinada coisa pode vir a ter – seja um disco, um filme, um momento. Quando os Kaiser Chiefs se estrearam com Employment em 2005, no mesmo ano que Silent Alarm de Bloc Party, Alligator dos The National e A Certain Trigger dos Maxïmo Park, a crítica musical não augurava um bom futuro para a banda de Ricky Wilson.
“Nunca percebi por que motivo bandas britânicas usam sotaques obscuros para cantar, mas têm feito isso há décadas. Recentemente, tem havido uma ‘mini-onda’ no Reino Unido de sotaques apenas ouvidos nos tempos do post punk”, escreveu Joe Tangari para a Pitchfork, em 2005, sobre a “mini-onda” indie britânica (como o próprio descreveu). “Para estes ouvidos americanos, é precisamente isso que torna bandas como Futureheads e Bloc Party tão boas – e Kaiser Chiefs são outro desses nomes, mas o seu primeiro álbum, Employment, não está no mesmo nível das estreias dos seus conterrâneos.” Volvidos 16 anos, a onda indie não foi “mini”, Employment é um clássico (é por isso que estamos aqui a homenageá-la) e os Kaiser Chiefs ainda são, de todos os supramencionados, a banda cuja formação está mais intacta.
As três primeiras faixas do disco podiam passar seguidas numa noite de copos qualquer, que seriam seguramente três momentos seguidos de euforia. Com hinos conhecidos, coros de “la, la, las” apropriados para serem replicados em massas, entre camadas de guitarras rápidas e sintetizadores hipnotizantes, “Everyday I Love You Less And Less”, “I Predict A Riot” e “Modern Way” arrancam o disco (e a carreiras dos Kaiser Chiefs) a dizer para o que vieram: rasgar.
Com reminiscência do melhor da Britpop, Ricky Wilson queixava-se. Queixava-se da sua vida, do seu dia, da sua cidade – “could you tell me in three words or more, it’s the only way of getting out of here”, cantam em “Modern Life” Também os Oasis fizeram-no com “Rock n’Roll Star” e os Blur com The Great Escape – e em 2005 os Kaiser Chiefs. Só que com mais cowbells. Ao vivo, as faixas transcendiam. Como esquecer em Lisboa, no Rock In Rio de 2008, quando Ricky Wilson cantou enquanto fazia slide, voando em direção ao palco?
Como escrevia no início do texto, é difícil detetar a grandiosidade das coisas no momento em que as vivemos. Normalmente, só o tempo pode fazer justiça a isso, não um hype ou uma condenação imediata. Nem acredito que Ricky Wilson tivesse consciência disso quando decidiu criar o nome da banda, inspirado no primeiro clube do capitão do seu clube Leeds, Lucas Radebe, os Kaizer Chiefs. Em 2005, Employment foi o quarto disco mais vendido no Reino Unido – e hoje já são mais de dois milhões de discos comprados. Ficaram para a história. Que os honremos com muitos “la, la, las” desavergonhados – eles mostraram que também dá para ser cool assim.