No álbum de estreia, os Maxïmo Park apresentaram uma sonoridade estranha e canções estruturalmente imprevisíveis que refletiam a persona de Paul Smith, outro anti-herói do indie rock.
Toda a gente reconhece o apelo de uma narrativa “boy-meets-girl”; quando bem contada, é quase irresistível, pois ninguém fica indiferente à história do rapaz bizarro e desajeitado que conquista a rapariga mais bonita do liceu depois de ultrapassadas as várias etapas que compõem estes enredos.
São elas: o encontro acidental; o ex-namorado manhoso; o interesse mútuo quando o nosso anti-herói capta a imaginação da desejada e o incidente estúpido que deita tudo a perder; e finalmente a redenção que chega com umas palavras bem escolhidas. Desfechos assim fazem acreditar que há lugar para todos – até para os tipos mais bizarros.
Paul Smith é um deles e é sobre isto que ele canta no excelente “A Certain Trigger” dos Maxïmo Park. Smith, cujas semelhanças estilísticas e temáticas com Jarvis Cocker e Robert Smith são declaradas, escreve sobre o que é ser “young” e estar “lost”, e incompreendido e desastrado nas coisas da vida social e do amor ao longo de quase todas as canções do álbum-estreia. Em nenhuma isso é tão evidente como em “Apply Some Pressure”:
“You I know that I would love to see you next year
I hope that I am still alive next year
You magnify the way I think about myself
Before you came I rarely thought about myself
Behind your veil I found a body underneath
Inside your head were things I never thought about
You know that I would love to see you next year
I hope that I am still alive next year”
Esta e “The Coast Is Always Changing” são as duas grandes músicas de “A Certain Trigger” e encapsulam perfeitamente a cena dos Maxïmo Park, cuja sonoridade é tão intrincada como os seus trocadilhos de palavras simples, mas eficazes. Cabem o pop, o punk, o rock, o indie rock, a bateria pesada e também o teclado deslizante ou melódico, algumas guitarras frenéticas, o baixo profundo e as vocalizações de Paul Smith, inquestionavelmente a alma mater da banda de Newcastle.
As canções são imprevisíveis – sem uma estrutura óbvia quadras-ponte-refrão-solo – e soma vários refrães orelhudos e inesperados surgidos após um chorrilho de rimas do eloquente e enérgico Paul Smith. É um álbum musicalmente estranho e a reação imediata poderá levar à sua rejeição; e foi assim que ele se entranhou em mim em 2005.