Quando em meados do ano passado fiz a minha estreia no Altamont, estava longe de imaginar que um artigo sobre Krautrock (o terceiro que redigi para este site) pudesse suscitar tamanho interesse nesta maravilhosa massa adepta que nos acompanha. Fi-lo em formato musipédia, no princípio de julho, e desde essa data mantive a ideia de fazer um artigo sobre o livro que Julian Cope escreveu acerca desse estilo de música. Faço-o agora, já com algum tempo de atraso em relação às minhas pretensões iniciais. Espero que o povo tenha razão, mais uma vez, quando diz que “mais vale tarde que nunca”.
O livro em questão foi publicado em 1995, tendo esgotado em muito pouco tempo. Fez-se ainda uma segunda edição, e nunca mais a obra voltou a ser publicada em Inglaterra. Nem voltará, segundo nos vai dizendo o próprio autor. Estamos perante um livro que atinge preços verdadeiramente fantásticos nos sites de compra online de todo o planeta, o que não é de estranhar, uma vez que a pequena obra de 144 páginas vale todo o dinheiro do mundo, passe o exagero da expressão. Para além da contextualização do período a que se reporta (histórico e musical, entenda-se) Krautrocksampler é redigido pelo punho de um homem que cedo começou a criar um enorme fascínio por essa estética tão particular, mostrando-se conhecedor profundo de muitos e bons disco kraut, e olhando para eles com o valioso sentimento de um fã perante pequenos deuses redondos que tocam a 33 rotações por minuto. Essa visão de especialista e fã confesso é, assim conjugados esses atributos, uma enorme mais valia, embora haja quem note, sobretudo em algumas das suas páginas, um ou outro exagero nos predicados que Julian Cope vai distribuindo pelos 50 discos que apresenta em forma de Top pessoalmente escolhidos por si, no que vem a revelar-se a parte mais interessante de toda a obra. Confesso que esse Top representou um caminho de descoberta, e é difícil perceber ainda hoje, em consciência, o impacto desse achado em mim.
Nas páginas de Krautrocksampler encontramos referências a inúmeros clássicos do género. De entre as cinco dezenas de discos escolhidos por Julian Cope, a dupla faceta do kraut alemão (ora mais ambiental, ora mais ritmada) está muito bem representada e distribuída de maneira razoavelmente equilibrada. Se o seu apreço tender para momentos mais minimalistas, etéreos, espaciais, então poderá ler sobre Ash Ra Tempel e Schwingungen, dos Ash Ra Tempel, ou sobre quatro discos fantásticos dos inultrapassáveis Cosmic Jokers (The Cosmic Jokers, Galatic Supermarket, Planeten Sit-In e Sci Fi Party), ou ainda conhecer Sergius Golowin e o seu Lord Krishna Von Goloka, bem como os majestosos Popol Vuh, através de Affenstunde, In Den Gärten Pharaos, Einsjäger & Siebenjäger, e Hosianna Mantra, sem esquecer os primeiros discos dos mestres Tangerine Dream (Electronic Meditation, Alpha Centauri, Atem e Zeit, por exemplo). Por outro lado, se preferir a vertente mais rockeira e ritmada (a célebre pulsação imparável que dá pelo nome de motorika), poderá aprofundar os seus conhecimentos a respeito de discos dos CAN (Monster Movie, Soundtracks, Tago Mago, Ege Bamyasi e Delay 1968), ou dos Amon Düül II (Phallus Dei, Yeti, Carnival In Babylon e Wolf City), dos clássicos Neu! (Neu!, Neu! 2 e Neu! ’75), passando por outras bandas como Harmonia, Guru Guru, Faust, La Düsseldorf (particularmente adorados por mim os discos Zuckerzeit e Sowiesoso), entre mais algumas obras de outros artistas. Enfim, como já terá percebido, a festa é garantida!
Comecei por referir que é difícil encontrar Krautrocksampler à venda, mesmo que a preços astronómicos. O que tenho foi-mo oferecido por um amigo inglês, e ainda hoje perdura a minha gratidão por esse amável gesto. Mas, como tenho a doença do completismo, fui juntando outras edições da obra. Tenho-a em língua francesa, em língua italiana, e até em língua alemã, da qual nem duas palavras seguidas consigo ler, falar ou entender. São lindas, todas elas, com a vantagem acrescida de terem ilustrações diferentes das da edição original. Todas trazem algo de novo, e isso encanta-me. Como se não bastasse, descobri, há pouco tempo, uma edição canadiana da obra, que não tardará a vir ao meu encontro. No entanto, não queria terminar este breve texto sem uma boa notícia: é bastante fácil encontrar nos ares da net a versão inglesa original de Krautrocksampler em pdf, pronta a ser descarregada para qualquer computador. Basta procurar, carregar nos links devidos, e a bíblia do krautrock estará à sua disposição.
Boas leituras! E depois, boas audições!