É sempre um prazer voltar a Julian Cope! No caso específico de Drunken Songs, o prazer expande-se por canções etílicas, todas elas com aromas e sabores muito particulares, produtos de destilações sonoras sóbrias e tranquilas.
Já não tínhamos notícias do good old arch-drude desde 2013, quando Revolutionary Suicide surgiu nos ares do mundo. Durante pouco mais de três anos, o antigo líder dos The Teardrop Explodes escreveu One Three One, A Time-Shifting Gnostic Hooligan Road Novel, livro bastante bem recebido pela crítica, em que apresenta bandas totalmente ficcionais, criando para o efeito (o lançamento do seu primeiro romance) uma banda sonora apensa, toda ela constituída por bandas que não existem (as que aparecem na sua obra literária), constituídas de facto por alguns dos seus mais recentes companheiros de percurso, também eles apresentados com nomes falsos. A diversão é, para muitos, garantida, mas na verdade o que todos os fãs de Cope desejavam era que voltasse ao formato tradicional das canções que fizeram dele o best kept secret da velha Albion. E assim, enquanto não surge com o seu novo disco, da sua prometida nova banda designada Dope, Julian Cope lançou Drunken Songs através da sua particular editora Head Heritage. O que une os seus seis temas é o facto de todos eles serem etílicos, celebrações a favor da bebida que todos (ou muitos, pelo menos) adoramos: a cerveja.
Mas afinal, o que bebemos aqui? Um passo atrás, antes da resposta pretendida para explicar que Julian Cope foi, durante bastante tempo, pouco adepto de líquidos fermentados, preferindo refugiar-se noutros prazeres como o lsd, por exemplo, de forma quase doutrinária. Foi apenas por volta de 2004, já depois de ter sido pai, que Cope começou a entusiasmar-se pelo típica bebida do primitivismo anglo-saxónico, facto que foi, em crescendo, transformando-se num prazer bem representativo dos seus paladares habituais, até do ponto de vista intelectual, digamos assim. Dado este breve enquadramento, retornemos à questão primordial. O que bebemos aqui é algo moderadamente alcoólico (leia-se melódico), canções que trazem de novo um Julian Cope mais acústico, um Julian Cope contador de histórias, irónico e sarcástico no que diz, despido de desnecessários arranjos e instrumentos que em nada combinariam com a singularidade desarmante de canções como “Drink Me Under The Table” ou “Liver Big As Hartlepool”. As duas, cada uma a seu jeito, fazem lembrar os tempos dos magníficos Skellington e Droolian, ambos de 1990, álbuns anteriores aos tempos maiores de Peggy Suicide (1991) e Jehovahkill (1992). São canções, estas e as outras quatro, “to enliven the dark sunless days, six tales of belligerent alcoholerated drunkenness as it plays out in tableaux across these British Isles”, como o próprio explica, no seu próprio site, num pequeno texto em que anuncia este seu novo trabalho.
Dizer que este é o melhor álbum de Cope, ou que Drunken Songs é capaz de refazer em nós (fãs absolutos da sua obra tão diversa e inquieta) os seus mais gloriosos dias, seria um perfeito absurdo. Nem sequer é isso que está em causa. Cope é sempre Cope, mesmo quando nos surge transformado em roupagens que vão do pop mais simples até ao som mais pesado e metaleiro, passando pelo kraut ou pela música de caráter mais ambiental. Todos os Cope records são únicos e pouco comparáveis, por isso basta dizer que Druken Songs é, a seu jeito, mais um disco de Julian Cope, não no sentido meramente copulativo que a expressão pode indiciar, antes querendo afirmar tratar-se de um nova peça do puzzle musical que esse grande homem de Wales tem vindo a construir ao longo de quatro frutíferas décadas.
Julian Cope voltou a beber e por isso fez este seu novo disco. Drunken Songs é um álbum dedicado ao prazer que a cerveja lhe dá. Para mim, que tenho o prazer de gostar de ambos (do músico e do líquido aqui celebrado) o ano não poderia ter começado melhor.