O quinto álbum dos Cloud Nothings levanta importantes questões sobre o lugar do rock no mundo de hoje.
Os Cloud Nothings são um fenómeno estranho. Digo isto porque ao quinto álbum (e sobretudo depois dos dois últimos Attack on Memory e Here and Nowhere Else) já poderiam ter dado um salto para o mainstream e serem cabeças de cartaz de festivais mundo fora. E no entanto, nada disso, continuam escondidos, aparecendo nas letrinhas pequenas nos cartazes, quando há bandas bem piores a serem consensuais e a chegarem a um público mais alargado (os Biffys Clyro da vida). Ah, as injustiças da vida…
Foi com este pensamento que me atirei a Life Without a Sound. E o arrepio na espinha começou logo na primeira música, “Up to the Surface”, com piano a arrancar, a voz de Dylan Baldi macia, um riff totalmente catchy. Instantaneamente me veio à cabeça o sentimento de uma possível kingleonização da banda, quiçá para fazer face à injustiça acima referida e assim utilizar uma fórmula que funcionou com o conjunto dos irmãos Followill. Raio de tempos estes. Fico sempre a pensar o que seria de uns Nirvana se começassem a tocar hoje, onde o espaço para o rock é diminuto, o valor dado à diferença reduzido e a MTV um canal de reality-shows e concluo que muito provavelmente passariam por apenas uma banda que chega às franjas das população, maníacos que insistem em procurar e ouvir música nova compulsivamente. Não que os Cloud Nothings sejam uns Nirvana, longe disso, mas são, até este ponto em que me encontro (ou seja 2 bons álbuns rock e uma música fácil) uma boa demonstração do espírito da coisa.
Não me deixei ficar por aqui, e naturalmente, fui ouvir a coisa até ao fim (se há coisa que não faço é deixar coisas a meio). Segunda música, terceira música, mesmo sentimento e só à quarta, “Darkened Rings” consegui respirar melhor. Aqui já reconheço os Cloud Nothings, malha poderosa, com variações de direção a meio, voz áspera. Depois reconheço-os outra vez à oitava música, “Strange Year”, sobretudo pela inquietude que provoca, pela constante quase explosão que nunca chega, sentimento que se extende à música que encerra o álbum, “Realize my Fate”. E a modos que é isto Life Without a Sound, alguns bons momentos, mas ao mesmo tempo uma suavização nos singles para mais facilmente agarrar ouvintes. Posso estar a cometer uma grande injustiça, mas é mesmo a ideia que transparece.