Quatro anos depois do seu último concerto, Jorge Cruz voltou aos palcos para dois espectáculos únicos, em Lisboa. O local escolhido para o regresso tão esperado do músico que pôs na ribalta a música de inspiração tradicional portuguesa, foi o Teatro Maria Matos.
Jorge Cruz é um dos nomes basilares da geração que quebrou com música portuguesa cantada em inglês e voltou à língua portuguesa. A sala estava quase cheia e “saudade” era a palavra que transparecia nos olhos do público. O conceito em palco era simples, duas violas e uma cadeira alentejana a piscar o olho à portugalidade.
O concerto iniciou com uma nova canção, “Transumante” que, ficámos a saber em primeira mão, será o nome do novo disco. Seguiram-se mais algumas canções da carreira a solo de Jorge Cruz. Foi uma noite de muitas afinações dos dois únicos instrumentos em palco, e, enquanto o músico o fazia, conversava com os fãs e amigos na plateia dissertando, por exemplo, sobre a relação entre as excessivas afinações e o desaparecimento prematuro de Nick Drake.
No alinhamento da noite estiveram presentes várias canções dos extintos Diabo na Cruz. Provavelmente, grande parte da assistência tinha a secreta esperança de que tais músicas fossem incluídas, mas ao mesmo tempo aceitariam se assim não fosse. “Gala do amor segredo” foi a primeira da noite e descansou quem muito esperançava.
As canções foram por aí fora: algumas escritas por Jorge cruz para outros artistas (como “Já não choro por ti”, interpretada por Gisela João), outras com 20 anos ou mais (“Adriana”, uma das minhas canções mais estimadas, foi com ela que conheci o Jorge numa compilação da Antena 3 chamada “3 pistas” de 2005, embora com uma versão bem diferente) e também algumas novas canções (como “Caminho de casa” que anseio ouvir novamente para uma melhor análise à lírica pois ouvir os nomes “José Matoso” e “Rosalía” na mesma estrofe merece uma audição mais atenta).
Num dos intervalos para afinar as violas, o músico confidenciou que, durante o seu hiato, percebeu que era necessário voltar a pegar na viola para fazer o que mais gostava, contar histórias. E as histórias que se seguiram trouxeram sorrisos rasgados, visíveis mesmo no escuro da sala, e as vozes ao alto. Foram “Heróis da vila”, “Amélia”, “Fronteira” e como não podia faltar no Maria Matos, a crónica de Glória Margarida, em “Armário da Glória”. O tempo regulamentar acabaria com “Forte”, dos Diabo na Cruz, com um coro na plateia à altura do nome da canção.
O encore teve três canções, e lançou agitação na sala, ao meu lado alguém tentava adivinhar quais as escolhidas, “Luzia” e “Nada” dois dos maiores hits da carreira dos Diabo na Cruz e da carreira a solo de Jorge Cruz, respetivamente. O último tema escolhido para a despedida foi o tradicional “Esta moda vem da serra”, onde ouvimos o verso “vim vos dar animação”, mas a animação não ficaria por ali, pois ainda houve tempo para um segundo encore, pedido e escolhido pelo público, e o tema mais votado foi “Fronteira”, fechando assim em grande o retorno tão esperado.
Se o objectivo destes concertos foi medir a temperatura do publico para um eventual regresso, a avaliar pela noite no Maria Matos, está quente, podem vir mais concertos ou discos. O que for.