No passado sábado, os Falso Nove foram até à Bota mostrar o seu fresquíssimo álbum de estreia Horta da Luz. O Altamont esteve lá para ouvir, ver e sentir! Saímos do Bota com o coração quente, a alma cheia e com um nó na cabeça – como descrever o que acabámos de viver? Será esta mais uma das “incoerências da realidade” de que nos falam os Falso Nove?
Aviso prévio em letras garrafais, lidas claramente na cadência correcta: a leitura deste artigo não dispensa, de maneira alguma, a audição atenta do disco ou a oportunidade de ouvir a banda na próxima vez que tocarem perto de vós.
Se é verdade que nunca dispensa, no caso dos Falso Nove talvez essa verdade seja um pouco mais evidente. Comecemos pela pergunta básica, que estilo de música tocam? Tem jazz, tem indie, tem pop, tem música popular portuguesa, tem rock e, provavelmente, mais qualquer coisa que não conseguimos apanhar. Mas, não, não é nem um bicho mutante de seis cabeças nem uma mistela que neutraliza os diferentes sabores.
Apesar de excelentes (multi) instrumentistas, Os Falso Nove não se deixam enrolar num exercício de virtuosismo e conseguem respeitar cada um desses elementos, integrando-os com bom gosto e, sobretudo, deixando-os respirar para que fluam naturalmente nas suas composições que sustentam a(s) história(s) que nos querem contar.
Histórias que refletem os diferentes estados de espírito de seres que se mostram corajosamente vulneráveis, da atmosférica contemplação da “Canção da Antemanhã”, ao swing catártico de “Cacos” – onde juramos ter ouvido o espírito de Django na guitarra acústica – ou ao crescendo quase progressivo d’”O Monstro” chamado angústia!
Aliás, de falso, parece haver apenas o nove – a entrega da banda é sincera, com fragilidade e feridas expostas, mas de peito aberto ao que para aí vem. Mateus fala com o público que enche a sala, introduz os temas, conta de onde vieram sem medo de se expor, de se revelar!
A meio do concerto, a banda homenageia Abril, quase pedindo desculpa ao mestre Zeca por o invocar! No entanto, nada foi em vão, pois a versão de “Que Amor Não me Engana” transpira a liberdade e ao belo!
Que noite!
Alinhamento:
- Intro
- Celeste
- O Monstro
- Cacos
- Vermelho
- Que Amor Não me Engana (Zeca Afonso) + Epílogo
- Turquesa
- Febre em dois andamentos
- Canção da Antemanhã
- Horta da Luz
Gostaríamos ainda de deixar uma palavra final de destaque para a BOTA (Base Organizada da Toca das Artes). Para além de ser um local muito agradável e interessante, da simpatia de quem lá trabalha e de manter uma programação variada e estimulante, o cuidado que demonstram com o som e o jogo de luzes é de louvar! Sempre impecável!