Já lá vão quase 20 anos desde a morte inesperada de Jeff Buckley, o filho de Tim Buckley que, com um único disco à data do seu desaparecimento, marcou de tal forma o som do rock alternativo dos anos 90 que a sua aura perdura até hoje.
Esse único disco era Grace, um extraordinário marco que continua a ecoar, mas desde então as gavetas de Buckley foram sendo vasculhadas à procura de material inédito. E já tivemos um pouco de tudo. O disco que se encontrava a gravar quando morreu – Sketches for my sweetheart the drunk – , vários álbuns ao vivo, compilações e EPs.
Parece – mas nestas coisas nada é certo – que este You and I será a última investida discográfica dos herdeiros de Buckley. E, ao contrário do que tantas vezes sucede com estas edições póstumas, desta vez o produto final vale a pena.
O que temos aqui é o resultado das sessões de gravação feitas em 1993 por Buckley para a Sony, depois de ter assinado com a editora que viria um ano mais tarde a editar Grace. Na prática, foi a forma encontrada de familiarizar Buckley com o estúdio e apresentar à editora material sobre que estilo se poderia esperar para o disco de estreia, e uma mostra do talento do cantor e guitarrista.
Dos 10 temas deste disco, a esmagadora maioria são covers que Buckley cantava e tocava desde a adolescência. Temos, logo a abrir, Bob Dylan, com “Just like a woman”, temos Sly and the Family Stone, temos Led Zeppelin num tema pouco conhecido. E temos, pasme-se, duas versões de músicas dos enormes Smiths, “The boy with the thorn in his side” e uma espantosa entrega de “I know it’s over”. Originais há dois: “Grace”, numa versão praticamente terminada, e “Dream of you and I”, na prática um instrumental com Buckley, depois, a contar sobre um sonho que viria a inspirar um tema.
Os temas alheios eram prática comum de Buckley na estrada, até porque, no início, não tinha a torrente de material próprio que viria a desenvolver de forma extraordinária durante 1993 e 1994. Alguns dos temas já tinham sido apresentados em EP e compilações. Aqui, são 10 temas gravados com qualidade, em estúdio, apenas com voz e guitarra. A desvantagem acaba por ser essa, a ausência de banda e de arranjos propriamente ditos fazem as dez músicas soarem demasiado parecidas umas com as outras. Mas, dada a escassez de material efectivamente gravado por Jeff Buckley, este disco acaba por ser uma adição indispensável aos fãs deste extraordinário e desafortunado músico que, como se vê por aqui, impregnava tudo o que tocava com o seu estilo muito próprio.
Se este é realmente o último testemunho deste talento perdido, a história não acaba nada mal.