Os Nap Eyes fizeram o primeiro álbum indie rock clássico do ano, diz a revista The Fader, logo no título. Os dois termos são particularmente bem escolhidas: “indie”, se pensarmos no termo não enquanto “atitude” underground dos anos 1990 mas enquanto conceito de leveza — e o álbum, de facto, é matéria rock que se deixa levar, suave mas continuada —; “clássico”, não enquanto álbum com aura de classicismo (embora se note conhecer a tradição da música popular, não estando desligado do passado nem sendo estética de apenas uma época), mas enquanto rock clássico, sem grandes invenções, que nunca perde o sentido de melodia (lembramo-nos aqui, por exemplo, de uma comparação com os Wilco, embora a música das duas bandas seja bem diferente).
Thought Rock Fish Scale não surge do nada nem é estreia alguma, mas a sequência de Whine of the Mystic, o primeiro álbum da banda, que circulou por mais do que uma editora e que foi editado tanto em 2014 como em 2015 (mas que viu, efectivamente, a sua grande implementação quando a editora Paradise of Bachelors o quis mostrar à América e consequentemente ao mundo). E a toada é a mesma: guitarras “limpas”, uma banda que se respeita entre si, num elogio à delicadeza e à suavidade extrema (lá está, o termo “indie”) que, ao contrário de muitos outros, não é tão inocente quanto parece (lembramo-nos elogiosamente de uns Real Estate, por exemplo, e do termo “jangly”, um “jangly” esparso). E, no meio disso, letras profundas (e não pseudo-profundas, a puxar aos clichés) de uma composição exímia (palmas para o guitarrista e vocalista da banda, Nigel Chapman) que pegam na vida e do seu quotidiano para contar coisas, com uma voz cuja beleza e fragilidade é encantadora.
Por baixo da leveza das guitarras, da voz letárgica e cansada, quase exausta, de Nigel Chapman, está o relato de desencantos, nostalgias, abandono e não raras vezes de desespero (oiça-se “Lion in chains”): em suma, um aproveitamento da música para dizer o que ficou por dizer e o que não cabe em conversas amigáveis (cantado assim, percebemos, não é artificial). Recorda-me uma frase que só poderia ser dita por Townes Van Zandt (à data) e que hoje poucos podem dizer. Mas nesses poucos consta, claro, Nigel Chapman (embora o seu lado depressivo tenha também um forte lado individualista, no sentido da importância da identidade individual):
Nem todas as [minhas] canções são tristes. Tenho algumas que não são tristes. São desesperadas. Totalmente desesperadas. Não achas a vida triste?”
E há, depois, algo habitualmente desprezado, mas que está longe de ser de somenos importância: uma atenção cuidada e “verdadeira” que não permite que os temas (e o álbum em geral) se tornem monótonos, com abertura para diferentes tendências, ritmos (às vezes mais rápido, outras vezes lento e minimal, a servir apenas a voz que emerge acima do resto) e formas de cantar: tudo de um bom gosto impecável, que torna, digo eu, a audição de Thought Rock Fish Scale um dos melhores prazeres musicais que os últimos tempos nos deram. Um prazer solitário, como o álbum o é, como nos explica Nigel Chapman numa excelente entrevista ao site (outrora revista) Chart Attack e no excelente tema “Stargazer”:
But if I go down I’m not taking you with me / it’s only myself in the end