Temos sempre em atenção aquilo que, periodicamente, Jane Weaver tem para nos dizer. Com Love in Constant Spectacle, saído em abril passado, a artista inglesa assina mais uma obra que testemunha o seu inegável talento.
Nunca nos saem dos ouvidos, os registos fonográficos de Jane Weaver. Desde os tempos de Like an Aspen Leaf (2002) que a vamos seguindo em nome próprio, não esquecendo, evidentemente, outros projetos que foi e vai partilhando com outros músicos. Muito mudou, na artista, ao longo de mais de duas décadas, embora alguns resquícios do seu mood musical continuem a poder escutar-se, disco após disco. No entanto, algum do seu inicial folk alternativo foi cedendo lugar a ambientes kraut, sustentados por uma linhagem assumidamente mais pop, embora sempre de forma comedida. Dificilmente a ouviremos nas rádios e televisões cá do retângulo, o que se lamenta. Já só pediríamos, apenas isso, uma presença num qualquer Festival de verão (ou de qualquer outra estação, naturalmente), mas também isso está por acontecer. Não se podendo ter tudo, haverá espaço para que os seus novos trabalhos possam entrar nas nossas vidas. E uma vez entrados, dificilmente sairão de forma definitiva. Por isso voltamos muitas vezes a Cherlokalate (2007), The Silver Globe (2014), Modern Kosmology (2017) ou Flock (2021), por exemplo. Mas agora é tempo de Love in Constant Spectacle, por isso… vamos a ele!
Três temas superlativos, logo de rajada: “Perfect Storm”, “Emotional Components” e o tema-título “Love in Constant Spectacle” fazem crescer muita água na boca. São poderosos, muito fortes candidatos a hits futuros da carreira da cantora, cantaroláveis de tão bonitos e oníricos. Há, aliás, e como sempre, uma aura de sonho, de crença no triunfo da beleza sonora em boa parte dos seus temas, sendo que para além dos já mencionados, outros se perfilam na mesma linha neste seu muito recente longa duração. Love in Constant Spectacle é como toda a pop (que não é só pop, mas que também é, inegavelmente) deveria ser: um álbum que nos agarra de maneira firme e delicada, ao mesmo tempo. Sem gritarias nem exibicionismos, sem facilitismos ou cedências, antes mantendo bem alta a inventividade e a ardileza que nos enfeitiça a cada passo, a cada canção. Love in Constant Spectacle comporta dez temas, sendo que nenhum deles é menor do que os restantes. Podemos demorar algum tempo a perceber a transversalidade do encanto que Jane Weaver deposita em cada um deles, mas lá se chega, bastando uma mão cheia de audições, se tanto. E depois, quando absolutamente rendidos à extraordinária beleza do disco, aparecem-nos pequenas pérolas, que mesmo sempre lá tendo estado, parece que se transfiguram a cada nova audição. Ouça-se, por exemplo, a maravilhosa “Univers” e perceberão bem o que vos tentamos aqui dizer. Aqueles versos iniciais (“Don’t blame me / It’s the universe that’s wrong”) ficarão colados às vossas cabeças como pastilha elástica em solas de sapatos, só que em bom, sem a irritante chatice peganhenta desses momentos. A leveza, a tranquilidade inquietante, a desaceleração da pulsação rítmica da canção, tudo é perfeito. Era bom que não tivesse fim, esse “Univers”.
Love in Constant Spectacle talvez seja o álbum mais fácil de ouvir de toda a discografia de Jane Weaver. Estão nele ingredientes perfeitos para uma muito longa e muito ampla refeição sonora. Nostalgia, batidas motorik em transmudando-se para electrónicas com algum sabor a jazz, valorizando-se, sem restrições, o formato das canções, por vezes com algum experimentalismo à mistura, o que acaba por ser a cereja no topo do bolo. Love in Constant Spectacle é uma pequena pérola de som. Bonita, muito bonita e brilhante. Tem o brilho próprio daqueles fins de tarde que nos fazem pensar que a noite que se aproxima tem tudo para ser memorável.