Jane Birkin, uma das grandes damas da canção francesa faz o seu melhor disco em muitos anos.
Quando pensamos em Jane Birkin, pensamos sempre na viragem dos 60’s para os 70’s, com ela linda – uma das mulheres mais bonitas do século XX – ao lado do genial Serge Gainsbourg, seu marido e parceiro de tantas músicas e de tantos contratempos. Serge já partiu há muito, mas a inglesa Birkin (que há décadas fez de Paris a sua casa) nunca saiu realmente da sua sombra. Os seus melhores momentos musicais foram de braço dado com essa sua grande paixão, e mesmo depois da morte deste Jane não tem parado de revisitar esse universo tão fascinante e tão particular.
Agora, regressa aos discos livre desse poderoso fantasma. Enfim, totalmente livre talvez seja um exagero. Mas já lá vamos.
Em Oh! Pardon tu dormais…, Birkin encontrou novos parceiros musicais, que libertaram novos cenários que ela tinha escondidos dentro de si. Falamos de Etienne Daho, responsável por grande parte das músicas, e do produtor Jean-Louis Piérot, que ajudaram a transformar em canções de corpo inteiro os fantasmas de uma vida cheia. E aqui temos muitos, desde maridos a companheiros musicais, animais de estimação ou até a sua filha mais velha, todos já desaparecidos, todos ainda presentes. A história de quem olha para trás, da infância até agora, nas contas do deve e haver de uma vida maior que a vida.
Sendo totalmente honestos, ainda se ouve Gainsbourg neste disco, sobretudo nos arranjos que perpassam todo este trabalho (escute-se a magnífica faixa-título, por exemplo). A estrutura clássica assenta nos alicerces de canções, com o baixo proeminente e a elegância das cordas a suportar a voz de Birkin, cuja eterna fragilidade surge aqui com mais corpo, que só a idade pode trazer.
O grande segredo está, como sempre, nas canções, e como os autores asseguram um excelente equilíbrio entre um exercício clássico e a modernidade sempre presente nos arranjos em todo o álbum. Oh, Pardon tu dormais… – nome de uma peça de teatro da autoria de Birkin e que que foi resgatado para este disco – é, acima de tudo, de uma extraordinária elegância do princípio ao fim.
A eternamente jovem inglesa dá-nos uma rodela cheia de belíssimas canções, e o seu disco mais coeso e bem conseguido em muito tempo.
