Os Jefferson Airplane descobrem o “ácido”e descolam rumo ao “País das Maravilhas”.
Produto musical da São Francisco hippie-psicadélica, os Jefferson Airplane foram o primeiro grupo da chamada “Bay Area ”a alcançar o sucesso no topo da Billboard. Com um rock muito baseado nas harmonias folk e com alguns trejeitos de jazz, o grupo liderado pela vocalista Grace Slick propunha uma viagem cósmica mais imediata e acessível que alguns dos seus congéneres sónicos. Eram o caso dos Grateful Dead ainda imersos nas experiências cacofónicas de estúdio para “Anthem for the Sun”, os Moby Grape que ensaiavam jams cósmicas que ultrapassavam facilmente os 20 minutos de duração e os Country Joe & the Fish que, apesar de brilhantes, simplesmente não possuíam ”o toque de midas” para terem mais projecção, leia-se sucesso comercial.
Para os Airplane, a chegada da voz poderosa de Grace Slick (que veio substituir a injustamente esquecida Signe Anderson) representou o movimento necessário para os Airplane terem a capacidade de voar mais alto que a concorrência. Aquilo que o malogrado guitarrista Paul Kantner, anos mais tarde numa entrevista à BBC, descreveu simplesmente como: “bastou uma mulher para equilibrar uma banda de cinco homens!”
E Slick não trazia só consigo apenas os seus dotes vocais, ela trouxe também algumas composições suas herdadas do seu antigo grupo – The Great Society – uma delas: “Somebody to Love”. O primeiro grande êxito do rock psicadélico a nível mundial.
A entrada pungente da voz feiticeira de Slick aliada a um refrão matador fizeram de “Somebody To Love” um dos principais “hinos” do prolífico “Summer of Love” que começava a despontar um pouco por todo o lado na cultura ocidental. Os Hippies, a nova geração desafiavam os valores do establishment, a guerra do Vietname. Viviam-se tempos de mudança…cumpria-se a profética promessa de Dylan: ”The Times They Are A-Changin’”.
Convencidos de que chegara a sua altura, os Aiplane traziam até Surrealistic Pillow canções que desafiavam a ordem moral vigente. Era o caso de “She Has Funny Cars”, (uma crítica ao materialismo da sociedade consumista ou “3/5 of a Mile in 10 Seconds” sobre os efeitos directos de uma viagem de LSD. E se o ácido não fosse a droga de escolha, recorria-se à marijuana para escrever “Comin’ Back to Me” da autoria do co-vocalista, Marty Balin.
Mas para lá do universo “electro-cósmico-psicadélico”, os Airplane eram um grupo que gostava das suas raízes folk americanas. Daí que metade do disco tenha uma série de canções acústicas, com destaque para os talentos do guitarrista Jorma Kaukunen que aqui arriscou jogar à versatilidade com o instrumental “Embryonic Journey”.
Mais controversa é a presença de outro guru da guitarra psicadélica, o amigo Jerry Garcia que, segundo o produtor Rick Jarrard, nunca pôs os pés nas sessões de gravação. No entanto, o líder dos Grateful Dead aparece creditado como solista nas faixas “Today” e “Plastic Fantastic Lover.
Verdade ou não, o que interessa é que há 50 anos, o psicadelismo tomava por breves instantes conta do cenário musical mundial. E para tal muito contribuiu “White Rabbit”, uma das melhores canções de sempre e uma daquelas que representa definitivamente o espírito revolucionário dos anos 60.
Com um andamento quase em ritmo de Tango, a voz quente e majestosa de Slick transporta-nos para o centro da acção do conto de Lewis Carroll – Alice no País das Maravilhas – embora aqui as personagens sejam desfiguradas para um contexto mais de: “sexo, drogas e rock n’ roll”.
Com as suas visões distorcidas sobre contos de fadas, os Airplane ajudavam a empurrar (por breves anos) o rock para uma nova direção: uma perspetiva renovada, alargada, desafiadora e definitivamente mais colorida de sonhar um possível “admirável mundo novo”.