Recebi há uns dias atrás as primeiras análises clínicas de rotina feitas com uma intenção séria. A reacção do médico foi de moderada despreocupação, com a excepção dos costumeiros parâmetros do colesterol e afins, associados a uma alimentação igualmente despreocupada – sempre wined and dined sem ter de pensar em tal coisa.
Entre ver os resultados e mostrar os valores, comentei-os com pessoas cujo tema não lhes é desconhecido, e uma delas perguntou-me, a propósito dos meus hábitos alimentares:
“O que é que queres provar que ainda não tenhas provado?”
“Nada, penso que já provei praticamente tudo o que queria provar.”
“Então, se já provaste alguma vez aquilo que não podes comer, não precisas de repetir.”
Cabinet of Curiosities é isso mesmo. Algo que, mais certo que sem dúvida, já provei, já bebi e comi vezes sem conta, de vários autores. Ouvi-o pela primeira vez referenciado por alguém muito (demasiado) versado em Pink Floyd e, particularmente, Syd Barrett, e demorei 5 segundos a perceber a ligação. Durante todo o álbum, o Syd, o pop barroco, os sixties, o ácido, está tudo lá. Podia perder-me nas ligações entre qualquer uma das músicas deste disco e os colossos que são a discografia do Syd Barrett, tanto a solo como com os Pink Floyd – o Piper e o Saucerful estão aqui claramente presentes, a tal ponto que as próprias variações da “Watching the Moon” chegam a arrepiar. Até uma “The Riddle” com um órgão “Being For The Benefit of Mr. Kite”, ou uma “Lullaby”, muito como o nosso Alexandre Monteiro, o Weatherman.
Em suma, o Jacco Gardner dá-nos algo precioso, arriscando parecer pretensioso (como alguém me disse), tal é a proximidade a tudo o que já ouvimos. Mas convenhamos…
Quem nunca repetiu o seu prato preferido?
Texto de Vasco Ramos