Willy, Willy Moon. Quem oiça este nome pela primeira vez, para além de associar quase de imediato com um herói de uma serie de animação qualquer, não ficará de certeza indiferente. A verdade é que este neozelandês de 24 anos tem uma mística impossível de não reconhecer. Seja pela sua excêntrica aparência a puxar para o retro, seja pelo seu nome ou simplesmente pela música que faz, Willy foi feito para ser uma estrela… Pelo menos segundo os parâmetros mais aceites dos públicos de hoje.
Não nos equivoquemos, Moon não é a clássica estrela pop/pop-rock que anos de MTV e “one hit wonders” nos habituaram. Nota-se na sua música um substrato basilar rico em clássicos do mundo dos Blues, Soul e Rock de tempos mais bonitos. Não seria à toa que Jack White o acolheria quase como protegido durante tanto tempo… Contudo, a toada leve, pouco fluida e por vez confusa da sua música deixa-nos com um travo a plástico no céu-da-boca. Estamos perante um caso claro de um artista dividido entre dois mundos cheios de promessas e tentações. Apercebi-me disso depois de o ouvir ao vivo e em estúdio.
Numa noite chuvosa de outono, em pleno coração lisboeta e depois de planos mal-amanhados que saíram gorados, Willy Moon, que ia atuar essa noite no MusicBox, apareceu como a salvação quase divina para aquela noite de sexta-feira. Caminhando na ignorância entusiasmante de quem não faz a mínima ideia de quem vai tocar o quê chegamos a um MusicBox cheio. Primeira surpresa. Pouco depois, acompanhado por uma belíssima (nos dois sentidos) banda totalmente feminina, chegou Willy ao palco e tudo começou a gingar. Segunda surpresa. Apesar de terem sido poucas as faixas com que nos brindou nessa noite, o groove intoxicante de um bom Blues é fatal… e quando tocado por quem o vive melhor ainda.
Esta era a ideia original e positiva que tinha deste rapaz que, em pouco tempo, descambou quando ouvi Here’s Willy Moon pela primeira vez, já no início deste ano de 2013. Seria a partir daqui que percebia: Willy padece de um grave caso de bipolaridade musical.
Não estamos perante uma aberração musical, claro que não. Temos músicas como ”Railroad Tracks” ou “Shakin’” que transmitem uma energia sensual e cativante, mas o problema prende-se no facto de algumas pistas muito boas perderem-se entre muitas mais fracas. O single “Yeah Yeah”, banda sonora de um anúncio da Apple, por exemplo, é um caso perfeito para ilustrar o chocar de mundos que é Moon. Pop e Blues-Rock em constante conflito, o que deixa o ouvinte sem perceber bem se deve por os óculos escuros e o casaco de cabedal ruço ou pegar no par de ténis mais berrante que tiver e com eles rasgar as pistas de dança mais coloridas e levianas.
Willy Moon é jovem, a sua carreira começou há muito pouco tempo e ainda têm tempo de se encontrar musicalmente. A dualidade da sua música prova que há substrato, só precisa é de ser aproveitado. Esperemos que acabe por pender para o lado da qualidade e não para o já sobrelotado canto da mediocridade.