Rock português cantado em inglês, pós-punk gostoso com umas pitadas de pós-rock, assim se apresenta o recém-lançado Goodbye, ÖLGA
Tal como o romance de Stendhal, Goodbye, ÖLGA tem um lado vermelho e outro negro. Tal como desse histórico romance, desconhecemos as razões para esta “distribuição” e significado agregado, permitindo-nos apenas divagar sobre as intenções dos artistas. O que é facto é que nos parece que, no caso do disco em questão, o lado vermelho é mais hipnótico e sedutor, enquanto que o negro é mais visceral e abrasivo, sendo possivelmente “The Pill” excepção a esta divisão puramente teórica.
Mas comecemos pelo início, já que haverá possivelmente desse lado quem não conheça a banda (até porque se apresentam com novo nome) e sobretudo quem, depois de os ouvir, fique surpreendido com o facto de serem portugueses. Sim, têm cartão de cidadão português (sem terem de recorrer a golden visas), e segundo o mesmo carregam o peso de 20 anos de carreira, pelo que recuemos um pouco às origens dos Goodbye, ÖLGA.
Colegas de escola de longa data, João Hipólito e João Teotónio sempre tiveram gosto pela música, “desporto” esse que os levou a cimentarem amizade e, mais tarde, à criação dos ÖLGA (sendo na altura o terceiro elemento Diogo Luiz, baterista), no longíquo ano de 2001. Deambulando na sonoridade pós-rock lançaram um EP, Ö (2004), seguido de um álbum, What Is (2005). Mudaram ligeiramente a agulha para uma onda mais revivalista de sonoridades dos anos 60 e 70 com LA RÉSISTANCE, no qual incorporaram também os ventos que se faziam sentir do aparecimento do indie rock. Ainda nos brindaram com mais um EP, Samurai antes de entrarem num hiato de 10 anos, durante o qual se dedicaram a projectos paralelos (Yu John, Michael Nice, L Mantra) e tiveram de lutar pelo seu nome, cortesia de uma americana que achou que a banda lisboeta fazia sombra aos seus projectos lá do outro lado do Atlântico… Eis-nos então chegados a 2022 e aos “novos” Goodbye, ÖLGA, agora em versão quarteto (houve substituição na bateria, estando agora a cargo de Filipe Ferreira e incorporação de Tiago Fonseca no baixo), e logo em dose dupla.
Das 15 canções temos algumas para destacar, à cabeça os dois singles “Cop’s Delight” e “Concrete Falls”, enérgicos, vibrantes, pós-punk revigorado. “Cure for Joy”, uma clara homenagem a duas bandas de referência dos anos 80 que marcam de forma indelével a sonoridade dos Goodbye, ÖLGA. “Uptown” que vai às raízes do grupo buscar o pós-rock e o seu escapismo onírico, “Out to Dance” delicada e com susurros ao nosso ouvido que nos embalam. E outras mais poderia acrescentar, mas também há que deixar algo para o leitor/ouvinte, descobrir por si.
É de salutar haver bandas a fazer a prova de vida que o rock precisa, em Portugal é um género algo descurado nos últimos tempos, havendo poucas bandas a ajudarem na frente de “combate”, e se anos houve em que se reclamava que cantavam todos em inglês, agora observa-se mais o contrário, com a maior parte a optar pela língua materna, sendo aqui quiçá os Linda Martini os principais carregadores da chama olímpica. Os Goodbye, ÖLGA vêm então preencher um nicho praticamente abandonado, e fazem-no com argúcia e vigor. Há que lembrar que só o rock salva.