Gary Clark Jr. recebeu o epíteto de «futuro do Blues» ainda antes de lançar o seu primeiro disco ao serviço de uma editora mainstream. Eram poucos os que contestariam esse título; isto é, até ao fatídico ano de 2012, em que lançou o seu terceiro LP: Blak and Blue. Ao disco falta o som sujo a que Clark nos tinha habituado nos seus EP’s, sendo um conjunto de boas canções, mas que peca pela produção e pela tentativa de abordar demasiados estilos difusos, tornando o disco pouco consistente. O que foi feito em disco não correspondia ao que se ouvia nos concertos de Gary e o passo seguinte foi o mais lógico, recuperar a arte perdida de lançar um disco ao vivo.
O registo Gary Clark Jr. Live foi gravado ao longo de 18 meses, durante a digressão mundial do músico. A fórmula de Gary Clark Jr. para os seus concertos ao vivo é simples: uma secção rítmica constituída por um baterista cheio de energia e talento e por um baixista que não falha uma nota, juntando ainda uma segunda guitarra tocada por um tipo cuja alcunha é King Zapata e isso basta para se perceber a qualidade deste senhor! A comandar as hostes está Gary, um gajo cheio de pinta, sempre de chapéu ou gorro, que tem na sua voz e personalidade o espírito do Blues (notando-se ainda uma certa arrogância característica do Hip-Hop) e que, acima de tudo, toca guitarra como se não houvesse amanhã!
As canções deste disco ao vivo têm a forma típica do Blues oriundo do Texas, mas pontuadas aqui e ali pela Soul, pelo Rock e até pelo Hip-Hop, sendo que há vezes em que associamos Gary Clark mais a um Marvin Gaye («Please Come Home») ou a um Prince ( «Blak and Blue») do que a um Albert King. Ao longo das composições, Clark mostra-nos os seus talentos vocais e deslumbra-nos com o seu virtuosismo nas seis cordas, fazendo desfilar longos solos, que deixariam qualquer (passe-se a comparação óbvia) Jimi Hendrix orgulhoso.
Com versões novas para velhos clássicos e abordagens mais cruas às suas próprias composições, este é claramente um dos melhores discos de Blues dos últimos tempos e a maior pérola do ainda curto catálogo de Gary Clark.
PS: A versão de «Bright Lights» está simplesmente assombrosa, com um solo que faz estremecer qualquer um!