A brevíssimos dias do arranque da XI edição do Sonic Blast, apanhámos Ricardo Rios em plena ação nos preparativos finais para uma breve conversa sob o sol escaldante deste início de agosto!
Altamont: Já que estás com a mão na massa, gostaria de te pedir para comparar o trabalho que está a dar a décima-primeira edição com aquele que vocês tiveram na primeira, já lá vão mais mais de onze anos…
Ricardo Rios: O trabalho não tem nada a ver. Comparando a primeira edição com esta décima-primeira, é como se a primeira edição fosse uma pequena ponte de madeira, enquanto que agora estamos a fazer uma ponte maior, com uma estrutura de aço. Em tudo, o festival cresceu, em staff, em bandas, em técnicos, em espaço, em dias. Foi tudo crescendo ao longo dos anos.
Por falar na primeira edição, lembras-te de quantas quantas pessoas estiveram presentes?
Entre quatrocentas e quinhentas pessoas.
Tem sido um salto e tanto, não é?
Foi gradual. Isto é um festival do it yourself e é música underground; portanto, vai crescendo gradualmente também. Ao longo dos anos, fomos sempre mantendo o espírito do festival, assim mais familiar. Crescemos um bocadinho, mas não demasiado, a meu ver. É claro que crescemos de umas quinhentas pessoas para mais ou menos umas quatro mil e quinhentas, cinco mil. É um crescimento bom, mas como é um festival de música underground, tem sempre as suas limitações.
E sentes que essa evolução é constante ou têm havido momentos que serviram de alavanca?
Foi crescendo gradualmente, mas com consciência e sustentabilidade. Queremos o festival também assim mais familiar. Não crescer de uma vez, porque depois vamos ter problemas. Nós temos de saber o que é que se está a fazer, e se quisermos ampliar o cartaz temos que ter palcos para isso, som e técnicos, alojamento e alimentação.
Há pouco falavas na música underground, mas não é um festival de apenas um estilo de música…
O Sonic Blast nunca foi um festival de um estilo de música só. É claro que se calhar abrangemos mais o stoner, o doom, o psicadélico… Mas também sempre pusemos punk ou hardcore. Lembro-me que na segunda edição tivemos os We Ride e os Toxic Shock, que são bandas de hardcore. Variamos muito dentro do que é chamada música independente e underground porque nós não queremos o Sonic Blast restrito. Queremos um festival aberto a todos os estilos, desde que encaixem e que agradem ao nosso público. Eu penso que o público não ouve só um estilo de música. Pelo menos falo por mim, que ouço todos os estilos de música. E gosto de variar também, para tornar isto entusiasmante e excitante, senão perde um bocado a piada. Não quero fazer fotocópias. Para quem trabalha com criatividade é complicado estarmos sempre a fazer a mesma coisa. É bom arriscar. O mesmo acontece com as bandas, há aquelas que têm sucesso fazendo sempre o mesmo disco, e há outras que variam porque ficam cansadas do mesmo registo; às vezes, são bem aceites, outras, mal aceites, mas são mais honestas. Ao variarmos vamos atraindo públicos novos, e também damos a conhecer a um público mais stoner ou mais doom outras vertentes. Para quem quer abrir horizontes…
Nessa dimensão, o Sonic Blast é um festival à parte da oferta nacional. O que achas que pode ajudar a dar essa sensação? Qual será a marca mais forte deste festival que ajuda a marcar a diferença em relação aos outros?
Nós fazemos isto de coração. Procuramos bandas que estão a emergir no movimento underground europeu (e não só) e que tenham o nosso cunho, a nossa identidade, o nosso espírito. Eu penso que nos temos sempre mantido assim, com este espírito um bocado livre e selvagem. Mas acho que todos os promotores têm um gosto pelas bandas que levam aos seus festivais. Eu, pelo menos, não consigo pôr uma banda que não ache ou interessante para mim ou interessante para o público.
Achas que esse será o critério principal que utilizam na escolha do cartaz?
Sim, nós escolhemos as bandas, gosto de todas, sem exceção. Claro que há umas que gosto mais e outras que gosto menos, mas não consigo imaginar trazer um grupo pop só porque vai atrair mais gente. Não penso assim. Se não ouço, ou se não achar que é interessante para o festival, têm outros festivais para ir e outros promotores para quem tocar.
Entrando agora na edição deste ano, qual é o nome que te orgulhas mais de ter conseguido para o festival?
Vou ter que dizer assim alguns nomes: Black Angels, Earthless, Kadavar, Eyehategod, A Place to Bury Strangers… Temos aqui uma mistura engraçada mas não consigo dizer um nome em específico. Como te disse, eu gosto das bandas todas.
Qual foi a mais difícil de conseguir? E que depois te tenha dado esse gozo de conseguir?
Talvez os Black Angels, demorou um bocado o processo, mas também já contávamos com isso. Temos que ter paciência nestas coisas, na fase do booking, temos de ter paciência e esperar, saber esperar. Mas estamos muito orgulhosos. Temos cá os Black Angels a tocar na décima-primeira edição.
Para além da música, quais são os destaques da edição deste ano?
Nós temos uma localização privilegiada, ao lado da praia, do rio e de uma de uma vila estupenda, com bons restaurantes e um skatepark incrível. Mas o mais importante dos festivais, para mim, continua a ser a música. Não me interessa mais nada sem ser a música e um campismo confortável, com sombra e tudo o resto. No campismo este ano vamos ter chuveiros e WC. Vamos equipar o festival para o pessoal ter mais conforto do que nas edições anteriores. O Festival Sonic Blast é simplesmente uma celebração da música. A música é o que mais interessa para mim.
Ainda há bilhetes disponíveis?
Os passes de 3 dias estão quase a acabar, falta menos de uma centena de bilhetes. Bilhetes diários, ainda há. O sábado já está muito forte, mas para os dois primeiros dias ainda ainda há bastantes.
Queres dar algum conselho prático para quem esteja a pensar ir?
Podem-se deslocar para Âncora, para o Sonic Blast, de comboio, temos 30% de desconto nas viagens de ida e volta para o festival de qualquer parte do país, resultado de uma parceria com a CP – Comboios de Portugal. Temos campismo grátis: abre no dia 8 e encerra no dia 13. E temos o warm up no dia 9, com entrada gratuita para os portadores de qualquer tipo de bilhete.