A dupla original de Braga de nome Ermo regressa para um álbum após mais de quatro anos de espera, transformando a sua imagem num produto cada vez mais pesado e retorcido, envolto num negrume brilhante que dá novos contornos ao seu som original.
Lo-Fi Moda não é apenas um dos melhores discos de 2017, mas talvez um dos mais importantes, graças à segurança com a qual dita um possível futuro para o mundo da música alternativa portuguesa.
Em 2013, Ermo pularam para a linha da frente da cena musical alternativa portuguesa com um álbum de capa estranha (Vem Por Aqui), repleto de faces de figuras inconfundíveis da cultura nacional (Saramago, Pessoa, Camões, entre outros) e de músicas também elas estranhas, oscilando entre a doçura sintetizada de faixas como “Correspondência” e a secura sinistra de outras, como “Macau”.
Volvidos quatro anos, António Costa e Bernardo Barbosa regressam para o lugar de respeito que lhes fora reservado já na época de lançamento do seu álbum de estreia: mas agora, já não trazem consigo a humanidade que transparecia em letras de amor e faces de ícones portugueses. O produto original vê-se agora maquinizado numa selva de baixos ensurdecedores, o rufo das drum machines, os sintetizadores metálicos que semeiam uma vivacidade furiosa em temas como ctrl + C ctrl + V, Contra e até o poético Vem nadar ao mar que enterra. O reconhecimento fácil da iconografia estética da paisagem cultural e literária portuguesa na capa do primeiro disco é aqui substituída por duas máscaras que lhes ocultam a cara no misto de um álbum consideravelmente mais negro e tenebroso do que o seu primeiro produto, conferindo-lhe um precioso anonimato que encaixa perfeitamente na elegância robótica de Lo-fi Moda.
Quem são os Ermo? Pouco importa quando a perfeição matemática com a qual tecem singularmente cada faixa do seu novo Lo Fi Moda (2017) lhes confere toda a identidade que precisarão daqui em diante: o futuro, sintetizado, frio e orelhudo da música portuguesa, graças a um álbum de excelente pop eletrónica, que nos apresenta uma ocorrência rara no panorama nacional: fazer música não como quem vai olhando para trás, mas como quem olha, com todas as certezas, em diante.