Algures em 2012, já não sei precisar bem quando, tive o primeiro vislumbre de quem seriam uns tais de Django Django. Foi-me passada a informação de uma banda realmente interessante. Vou ser sincero. Não lhes liguei patavina. Erro. Estaria, provavelmente, ocupado em festejar (mais) um título roubado ao Benfica de Jesus. Coisa pouca mas esta minha indiferença em relação à banda escocesa teria um fim abrupto perto do fim de 2012. Mais precisamente em Novembro desse mesmo ano.
Durante um périplo pela Ásia, numa qualquer loja meio hipster da cosmopolita Hong Kong, deparei-me com a qualidade musical da playlist dessa mesma loja. Eles, que tanto vendiam cerveja importada, como roupa e parafernália vintage, tinham um gosto acima da média, musicalmente falando. E foi precisamente nessa mesma loja que passou uma certa música que me entrou directamente pelo ouvido, passando pelo tálamo, enviando estímulos nervosos para o centro das emoções, para o córtex pré-frontal e para o hipotálamo. Deu uma certa coceira gostosa. Felizmente há aplicações que ajudam a que não nos esqueçamos de certas coisas e o Shazam é uma delas. Poucos segundos ganharia uma nova banda favorita. Django Django de seu nome. Ah. A música em questão era a “Storm”.
“Storm”, lançada em 2009, foi o primeiro lançamento da banda de Edimburgo (baseada em Londres). Um portento de som, com batidas, compassos matreiros, vozes e coros fortes com mudanças entre verso e refrão constantes, o suficiente para vos manter agarrados como uma droga das boas. Ora este som misterioso, um misto entre luz e escuridão, antigo e novo, clássico e futurista, guitarras, sintetizadores, baterias não utilizadas de modo convencional fizeram do primeiro disco da banda, o homónimo Django Django, uma pérola dos discos da última geração de músicos.
Agarrei-me a Django Django tanto quanto podia, penitenciando-me gravemente por os ter deixado tanto tempo esquecidos na gaveta da letra D do meu velhinho iPod. Curiosa é imagem mental que criei com o disco e o próprio som da banda. Estava (e ainda estou, raios!) a ler as Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, vulgo Guerra dos Tronos, em plenas praias do Vietname e músicas como “Hail Bop”, “Firewater”, “Waveforms”, ou quase qualquer uma do resto disco, casaram tão bem – pelos menos aos meus ouvidos – como um Danúbio Azul a musicar 2001 – Odisséia no Espaço. Chamem-me louco mas atentem às letras que falam de céus, estrelas, escuridão, fogo, luar, sombras e se a isso juntarmos sons exóticos e etéreos teremos uma bela banda sonora. Pensem nisso, pensem…
Apesar de tudo, um disco pode não chegar para fazer uma banda. Esta pujança toda poderia tornar-se pífia num concerto ao vivo. Perder-se esse tal misticismo que a banda ostenta. Nada mais errado. Em 2013, aquando da sua passagem por solo nacional, no ainda Optimus Alive, os Django Django mostraram que, além de grandes canções pop, são mestres em levantar uma plateia. Confesso que o show que nos deram em Algés foi dos melhores que este que vos escreve visionou. Uma ligação quase cósmica entre a banda e o público, na mesma toada que é possível sentir nos concertos de Arcade Fire. Uma hora inesquecível.
2015 chegou e a notícia que surgia era de uma sequela por parte dos Django Django. Born Under Saturn era o nome escolhido para mais uma viagem oferecida pelos escoceses David Maclean (baterista e produtor), Vincent Neff (vocalista e guitarrista), Jimmy Dixon (baixista), and Tommy Grace (teclas). David Maclean é o irmão mais novo de John Maclean, ex-membro dos Beta Band, o que terá, certamente, influenciado o som dos Django Django.
Vamos ser honestos. Born Under Saturn é inferior a Django Django. Não tem a frescura e emergência que o disco de 2012 teve. Não tem tantas canções âncora que prendam e sufoquem à primeira audição. Falta-lhe uma “Default”, uma “WOR”, uma “Storm”. Mas verdade seja dita, Born Under Saturn é bom. Cresce a cada vez que metemos o disco em repeat, e, embora não tenha as tais canções que nos encostem a uma parede de tão boas que são, acabamos por descobrir outras que começamos a sentir empatia e a desejar ouvi-las lado a lado com as músicas do primeiro disco. “Giant”, faixa que abre o disco é exemplo disso mesmo. Ao início não damos muito por ela, parece que se encontra dormente mas agarra-nos na parte final e dá uma grande abertura para a segunda canção, “Shake and Tremble”, criada a partir das cinzas de “WOR” e que nos mete logo a gingar a anca e o pulso.
Tal como no primeiro disco de Django Django, a adrenalina vai alternando com sons mais místicos e etéreos, que podíamos encontrar em qualquer palácio de Yunkai, Meereen ou Velha Ghis ou então transportados para a luz de R’hllor como em “First Light”, primeiro tomo a sair deste Born Under Saturn, que decepcionou alguns que estavam bem expectantes do segundo longa duração da banda escocesa. Pode não ter sido o melhor “single” para agarrar as pessoas mas exemplifica bem o som do disco. Primeiro desilude, depois agarra. E agarra mesmo bem em “Reflections”. Exímios nos coros e sons pastosos e meio tropicais, os Django Django vão voltando a ganhar a nossa confiança durante os cerca de 60 minutos que dura Born Under Saturn e que desaguam em “Break The Glass” e “Life We Knew”.
Sim, Born Under Saturn é inferior a Django Django, mas dada a qualidade destas 13 músicas, digo-vos que ninguém sairá defraudado. O seu som veio para perdurar e será, certamente, um dos concertos do ano, no agora, NOS Alive 2015. A não perder, já dia 9 de Julho.