Um projeto do português Indigo Dias e inspirado pela vastidão do espaço, Redshift Blues é um daqueles discos que nos faz acreditar no futuro da música feita em Portugal.
Este é o segundo trabalho do músico nascido em Faro que estuda em Lisboa, depois de Fragments of A Dying Star, de 2021 e é uma melhoria em todos os aspetos. A produção e estética estão mais apuradas e tudo, segundo consegui apurar, foi composto e tocado pelo próprio, que é um rapaz de 20 anos.
Redshift Blues arranca com “Ships Sailing Space”, uma canção com influências jazz mas também com toques de Mars Volta e Foals, num tom mais contemplativo, e, durante 42 minutos, Dias tem o dom de surpreender nas composições, partindo depois para “Nine Clouds”, onde os sintetizadores pontuam, porque o músico diz-se inspirado pelo espaço e espaço tem de ter sintetizadores, claro está. “Former Living Thing” desenvolve-se numa enorme malha rock e “Bring Down The Sky” é um banger de todo o tamanho. Se me dissessem que Dispirited Spirits eram 5 ou seis pessoas com formação musical extensa eu acreditava.
A fechar o disco temos “Saturnine Saturn Dreams”, “Methanol Fire” e a faixa-título, “Redshift Blues”. A primeira destas com um toque familiar na forma de cantar que lembra um pouco Cedric Bixler-Zavala, a segunda que começa em grande velocidade para se desenvolver nuns acordes quase de samba espacial. Finalmente, “Redshift Blues”, uma composição de 10m de duração, enche-se de camadas vocais para terminar numa explosão sonora épica.
Também com semelhanças a Placebo, Car Seat Headrest ou coisas mais math rock como American Football, Indigo Dias cria o seu caminho e som neste trabalho, mostra o seu crescimento a ouvir e a tocar jazz, ainda por cima canta com excelente pronúncia em inglês e fez tudo isto sozinho.
Este disco, lançado pelo próprio, chegou à minha atenção pela mão de Mário Andrade e na verdade merece muito mais atenção do público português de bom gosto e airplay em rádios.
O músico diz que os seus trabalhos são fotografias num espaço-tempo do que ouve e para o nosso contentamento, o que ouve é bom, e o que lhe sai musicalmente também. Em apenas sete canções vamos do rock ao jazz, os ambientes espaciais estão lá e bem conseguidos e este é um artista que merece muito mas muito mais reconhecimento no nosso panorama musical, pelo DIY e, sobretudo, pelos resultados.