Esperar por cada álbum novo de Deerhunter tornou-se motivo de ansiedade e sofrimento por antecipação, que são das coisas que o meu corpo menos tolera. Neste caso concreto, repercute-se muito rapidamente em queda de cabelo, pruridos vários a percorrerem o corpo, cansaço psicológico. De modos que há que agradecer desde já, aqui e agora, ao senhor que atropelou Bradford Cox enquanto passeava o seu cão no final do ano passado, levando-o a conceber este álbum no seguimento do “acidente”.
Mas este foi apenas um dos pontos de partida para o desenhar de Fading Frontier – o próprio Cox colocou no site oficial da banda um mapa com todas as influências que foram consideradas para o efeito, mapa que aqui partilhamos – Concept Map. No centro está, como relatado acima, o seu cão Faulkner e o acidente. Mas se olharmos para a periferia, ressaltam várias bandas que ficam na fronteira entre o alternativo e o pop, como os R.E.M., INXS, Tom Petty, Caetano Veloso. Será esta a tal fading frontier mencionada no título? Porque de facto é uma fronteira cada vez mais esbatida, menos clara. Basta pensar nuns War on Drugs (uma das bandas mais valorizadas pelos meios alternativos o ano passado) e a sua proximidade sonora com um Bryan Adams. Ou numa massificação latente de bandas com raízes alternativas, Kings of Leon, Killers, Arcade Fire até (estes sem concessões de ideias sonoras). Ou apresentando a discografia dos Deerhunter e encaixar esta mais recente peça do puzzle, no que é claramente o mais acessível álbum de sempre da banda de Atlanta. E no “acessível”, não se entenda um tom depreciativo, é um caminho. Já vamos no sétimo álbum de Deerhunter e neste tempo uma coisa é clara – não existe um som típico dos Deerhunter.
Com uma curta duração, de apenas 37 minutos e 9 músicas, Fading Frontier sabe a pouco. Mas isto pode ser defeito de fabrico, o querer um pouco mais das boas coisas da vida. Qual docinho que se derrete nas nossas bocas, acaba com vontade de se ouvir novamente. “Breaker” é puro prazer, “Leather & Wood” é momento de pausa e reflexão, minimalista, “Ad Astra” é um registo dream pop, para nos transportar para longe por uns minutos, “Carrion” é fim de festa com a força redobrada. What’s wrong with me?, pergunta Bradford. Nós dizemos que nada, Bradford, é continuar o bom serviço público.