Não sabemos se algo de diferente tem vindo a ser misturado na água da cidade brasileira de Goiânia, mas parece. Carne Doce, Boogarins ou Luziluzia são alguns dos nomes da nova música rock local, dos quais temos dado conta aqui no Altamont, mas há mais, muito mais, estranhamente mais.
Os Chá de Gim são outro fruto doce de Goiânia, tão fresquinhos que acabam de lançar o seu disco de estreia, este Comunhão.
O percurso, ainda curto, conta-se rapidamente. Com apenas um ou outro single editado mas já alguma presença em palco, os Chá de Gim foram fazendo caminho em festivais no Brasil, em Goiânia e não só.
Aquilo que distingue esta banda das restantes que mencionámos antes é, talvez, uma apropriação mais directa e maior da herança da variedade da música brasileira. O som dos Chá de Gim, liderados pelo vocalista Diego Wander, traz-nos um caldeirão onde cabe tudo e mais um par de botas. Temos Brasil profundo no samba e no forró mais eléctrico; temos bossa, claro; temos os eternos Mutantes; temos Jorge Ben e Luiz Gonzaga; temos construções e apontamentos jazz aqui e ali; e temos rock, a linguagem primordial, com laivos subtis de psicadelismo controlado.
Esta referência à música tradicional brasileira, a música do povo – o samba e o forró – não é nova. Lembrem-se os saudosos Raimundos, que partiam da mesma base mas em direcção ao punk e ao rock mais pesado. Aqui, está tudo mais próximo da raiz (ouça-se “Samba Verde” ou o single “Zé”, para se perceber como se pode fazer coisas novas e frescas, respeitando totalmente a tradição). Para rock escute-se “Dropei”, guitarra eléctrica toda efeitos e ritmo frenético de bater o pé.
Um disco de estreia a prometer muita coisa boa. Uma Comunhão de velho e novo, a merecer a nossa atenção.