Com a morte do teclista Richard Wright em 2008, qualquer possibilidade de juntar os Pink Floyd em palco (após 20 gloriosos minutos no Live 8) esfumou-se. Tanto Roger Waters como David Gilmour desde então têm fumado o cachimbo da paz e até colaborado ocasionalmente nos espetáculos um do outro. Mas um regresso em full-time, esse completamente fora de questão.
O ano passado surgiu The Endless River, disco ambiental e maioritariamente instrumental, composto por sobras de The Division Bell. Uma obra que deixou um sabor agridoce na boca e nos ouvidos dos fãs que secretamente ainda esperavam um disco à moda antiga dos Pink Floyd. A balada soft-rock “Louder Than Words” soube a pouco.
Agora, um ano depois Gilmour lança “às feras” o seu quarto disco a solo, Rattle That Lock. Um álbum descontraído, com algumas boas canções mas sem qualquer lampejo ou rasgo de genialidade. Típico de quem já tem quase 70 anos e já não tem nada a provar a ninguém.
Acima de tudo é um disco caseirinho, produzido pela equipa que o tem acompanhado na última década. Cá estão o ex-Roxy Music, Phil Manzanera, Youth dos Orb e Andy Jackson, engenheiro de som da maioria dos discos dos Pink Floyd já desde o longínquo The Wall. A banda é quase a mesma da digressão de “On An Island”. E as letras estão a cargo da esposa, a ex-jornalista Polly Sampson.
A jogar em casa, Gilmour está à vontade em quase todas as canções. Há aqui três instrumentais tipicamente Floydianos – “5 AM”, “Beauty” e “And Then” – que poderiam fazer parte de A Momentary Lapse of Reason ou The Division Bell. O guitarrista usa e abusa do seu habitual vibrato com os seus solos quase cantaroláveis do costume. Aquela sensação de onde é que eu já ouvi isto…
Passando à parte das canções propriamente ditas, comecemos pela que empresta o nome ao disco. Com a melodia que sustenta a canção gravada diretamente do Iphone de Gilmour, enquanto este esperava pelo comboio numa estação qualquer francesa. “Ouvia aquele jingle quando anunciavam alguma coisa na estação e quase que me apetecia dançar”, referiu Gilmour à imprensa. Resta dizer que a canção é eficaz, direta, mas completamente desfasada do seu tempo. Se tivesse sido editada em 1988 , certamente que teria sido um êxito.
Segue-se uma série de temas mais calmos e melancólicos, com o tema da morte em cima da mesa. “Faces of Stone” é sobre a Mãe do autor e “A Boat Lies Waiting”, escrito em memória de Richard Wright. “In Any Tongue” partilha dessa mesma angústia mas tem o seu quê de bonito e misterioso coma participação especial do filho, Gabriel. Talvez a par de “Faces of Stone”, sejam os momentos mais marcantes desta obra.
Numa nota menos sombria, aparecem “The Girl in the Yellow Dress” e “Today”. A primeira uma surpresa pelo som completamente jazz e um ambiente fora do comum para este músico. A segunda tal como “Rattle That Lock” é uma música ligeira, perfeita para conduzir num passeio familiar de final de tarde. “Just the weight of the world slides away…”
Sem malícia, penso que Gilmour já fez muito melhor mas Rattle That Lock também não é um disco mau. É uma obra fácil de consumir e que tem dois ou três apontamentos notáveis. Se fosse outro artista até levaria uma melhor nota. Mas aqui não passa da mediania.