Lodger é o último álbum da trilogia de Berlim. Se Station To Station serviu como um álbum de transição entre a “Plastic Soul” de Young Americans e os dois primeiros álbuns da trilogia, Lodger encerrava esse capítulo, servindo também como um elemento catalisador com o álbum que se seguiria.
A primeira canção do disco – “Fantastic Voyage” – mostra claramente um Bowie menos influenciado por Brian Eno, sentindo-se uma humanidade e um ambiente mais caloroso do que aqueles que existiam Low ou “Heroes”. As letras da música revelam um narrador indignado com a iminente guerra nuclear (“It’s a moving world/ but that’s no reason/ To shot some of those missiles”) e a desvalorização da vida humana (“Think of us as fatherless scum/ (…)/ Remember it’s true, loyalty is valuable/ Bu tour lives are valuable too”), tema que se prolonga ao longo de todo o disco.
As faixas seguintes parecem transmitir uma sensação de movimento. O ouvinte é levado por entre instrumentais caóticos à la Eno e découpé de letras, ao estilo de Bowie, o Dadaísta; referências a locais exóticos; dialectos que vão do turco (“Yassassin”), às línguas faladas em certas tribos africanas (“African Night Flight”); estilos musicais tão variados como o reggae, música turca, kraut, funk – e o que quer que seja o que é “African Night Flight”. No entanto nunca se deixa de sentir a ligação entre as músicas, em grande parte devido à voz do cronista. Ao contrário dos outros dois discos da trilogia berlinense, em Lodger não há músicas instrumentais.
O cronista de viagens desaparece para dar lugar ao contador de histórias, como aquela do D.J. que perde a sua individualidade e a noção da realidade devido ao seu trabalho. Ou então da mulher que sofre de violência doméstica às mãos do marido que não só a menospreza psicologicamente como ainda lhe bate. E há ainda espaço para um tema sobre as vantagens de se ser rapaz, com letras que relançaram a discussão sobre a orientação sexual de Bowie, tal como “John, I’m Only Dancing” fizera anos antes.
“Red Money”, a última música de Lodger, é o fim de uma outra era para o Camaleão da pop. É a última música do disco. É a última música da trilogia de Berlim. Anunciava o fim da colaboração com Brian Eno. E, tendo como base uma música gravada por Iggy Pop, é o anunciar do fim de uma colaboração entre os dois.
Bowie começaria uma nova era com o seu disco seguinte, Scary Monsters.