Desde o seu primeiro disco que Kristian Matsson não vende mais do que as suas histórias, sempre cantadas a uma voz e brilhantemente tocadas a duas mãos na guitarra. Já lá vão três álbuns e dois EP’s, todos carregadinhos de uma folk minimalista à lá Dylan, segundo os mais entendidos. Kristian costuma rir e responder com sarcasmo a tamanha comparação, ao mesmo tempo que muito seriamente insiste: “Isto é o que eu faço. São os meus discos. É a minha música.”
E é. Dark Bird Is Home não é Dylan.
Em palco, Kristian Matsson é Tallest Man on Earth, um jovem da colheita de 1983 nascido em Dalarna, na Suécia. Casado com Amanda Bergman (da mesma cidade e também ela cantautora), Matsson estava há demasiado tempo em tour com There’s No Leaving Now (2012). Só queria chegar a casa, parar e descansar durante uns tempos, “dedicar-me à família”, disse. Só que quando voltou à sua terra natal, tudo estava diferente: viu um ente querido partir para sempre, separou-se de Amanda e tudo isto o fez olhar para a vida com outros olhos. O coração estava agora despedaçado e era urgente um escape, ocupar o tempo, gastar energia. Era urgente criar, mesmo quando o suposto era parar.
E era. Dark Bird Is Home é só Tallest Man on Earth.
E se em Sometimes the Blues Is Just A Passing Bird (2010) Matsson introduz a guitarra eléctrica pela primeira vez – ainda que de forma suave – ao quarto álbum e do alto dos seus 170cm de altura, Tallest Man on Earth faz-se acompanhar de um admirável mundo de instrumentos ao longo dos 40 minutos de música em Dark Bird Is Home. Bastam três minutos e qualquer coisa de “Fields of a Home”, a faixa de abertura, para logo nos sentirmos em território meio desconhecido. À segunda faixa, ouvimos “Darkness of a Dream”, e pensamos incrédulos: “Alto! Aquilo é uma bateria lá ao fundo?”
E é mesmo. Dark Bird Is Home é o seu álbum mais “barulhento”.
Mas também é o mais lento e o mais suave de todos. E se as histórias e a voz de Tallest Man on Earth continuam a ser o centro de tudo neste disco, acrescem agora coros gospel, trompetes, cordas e a tal bateria. Kristian apresenta-se ainda ao clarinete em “Timothy” e ao piano em “Little Nowhere Town”. Não é que os álbuns anteriores não tenham apontamentos de sopro aqui ou ali, só que agora há toda uma banda a acompanhar as guitarras de sempre. E isso é tão bom sinal. Há quem critique e exija de volta o Tallest Man on Earth de antigamente. Já eu sou a favor da evolução e do crescimento musical, até porque a sua identidade continua lá. E agora, para sorte de quem não estiver distraído, os apreciadores de música ao vivo como eu vão poder ver Tallest Man on Earth a tocar em palco com mais barulho. E se há algo de carismático em todos os seus espectáculos, agora arrisco em pele de galinha.
Dark Bird Is Home é assim tão bonito. E todos deviam espreitá-lo.