Confesso que me entusiasmei com o aparecimento dos The Coral, no já distante ano de 2002. Vi neles uma banda com enorme potencial de crescimento, como se costuma hoje dizer em relação a jogadores da bola. A banda parecia-me segura do caminho que queriam traçar, e trouxeram uma enorme lufada de rock fresco com sangue na guelra. Chegava cheia de energia contagiante, repleta de ótimas canções musculadas e bem certeiras. O primeiro álbum era, na verdade, um disco a transbordar de hits, como “Spanish Main”, “I Remember When”, “Shadows Fall”, “Dreaming Of You” entre mais algumas outras boas canções. Depois veio, no ano seguinte, Magic And Medicine, e continuaram grandes. Conseguiram mais uma outra mão cheia de belíssimos temas, e o álbum, no seu todo, mantinha-se fresco e cheio de garra, embora menos rockeiro que o primeiro. Os manos Skelly e restante trupe eram os novos meninos bonitos (mas rudes, feios e desalinhados) do rock inglês. No entanto, e a partir do terceiro longa duração (refiro-me a The Invisible Invasion, de 2005, uma vez que Nightfreak And The Sons Of Becker, de 2004, nunca foi considerado pelo grupo como tal) a banda foi perdendo importância, implodindo egos (afinal a história repete-se, contrariamente ao que é comum dizer-se), até quase se apagar no esquecimento do tempo. Depois de mais quatro álbuns pouco dignos de referência, eis que regressam em 2016, dispostos a ocupar o lugar de destaque que tiveram no seu passado musical. As intenções poderão ser as melhores, mas o disco não faz esquecer os anos em que foram verdadeiramente importantes. Chama-se Distance Inbetween, e traz um trunfo interessante: a vontade de recuperar o tempo perdido.
Como terá ficado inferido no parágrafo inicial deste texto, este recente trabalho dos The Coral é, mesmo assim, um passo em frente em relação aos menos conseguidos discos anteriores. Mas isso não chega para fazer de Distance Inbetween um grande álbum. Sinceramente vos digo que gostaria que assim não fosse. No entanto, também não estamos perante um disco menor. Há nele uma enorme vontade de acertar caminho, e isso é verdadeiramente conseguido em duas ou três canções. Basta ouvir “Miss Fortune” (a melhor faixa do disco) para se perceber que estes rapazes ainda conseguem tirar ótimos sons das suas cabeças. Ou escutar a serenidade de “Distance Inbetween”, por exemplo. Mas há mais. Há ecos de algum psicadelismo dormente dos anos 60 em “She Runs The River”, tema bastante bem conseguido. Ao ouvirmos o disco por inteiro e de forma corrida, fica-nos, no entanto, a ideia de estarmos perante um lote de canções seguras, mas sem a faísca de génio de outros tempos. Os The Coral vão variando entre alguma acidez sonora, um toque de psicadelismo (tão na moda, mas que sempre lhes esteve no ADN, como é bom reconhecer) e alt rock, não sendo também difícil perceber influências dos The Doors, Love e até uns pozinhos de Pink Floyd nas doze canções de Distance Inbetween. As melodias com algum pendor retro continuam a revelar o bom gosto da banda de Merseyside, mas falta sempre alguma coisa para elevar este álbum ao patamar dos discos privilegiados . Parece um trabalho vago, indeterminado, sem o princípio ativo dos seus primeiros discos. Nesse sentido, Distance Inbetween é mais um genérico do que um álbum de marca The Coral, if you know what I mean.
Termino, mesmo assim, de espírito aberto. Parece-me seguro que a cada audição o disco vai crescendo um pouco, o que poderá ser um bom indício. Terá de fazer o seu caminho dentro da minha cabeça, e isso poderá levar o seu tempo. Resta saber, na verdade, se eu continuarei a ter tempo para lhe dar, ou se entre nós se instalará uma certa distance in between inultrapassável.
Bom artigo, gosto muito dos Coral.