Os Underworld nunca foram apenas e só a banda de “Born Slippy”, ainda que seja esse, sem sombra de dúvida, o tema mais emblemático da sua carreira – e responsável máximo pela chegada da sua música até uma população mais sintonizada com o rock, e que negava sobremaneira as electrónicas.
O seu apelo nesta área dever-se-á, certamente, ao facto de saberem, como qualquer banda pop/rock, construir uma canção com pés e cabeça por oposição à hipnose techno ou trance. Olhe-se para a magnífica “Dirty Epic”, “Push Upstairs” ou, mais recentemente, para a épica “Always Loved A Film”, porventura o último grande tema que criaram. Os Underworld não colocam tanta ênfase no ambiente como os seus pares: preferem a poesia, narrada em formato stream of consciousness por Karl Hyde. Ora, o rock é poesia. Porque não a electrónica?
Barbara Barbara, We Face A Shining Future mantém essa toada – o título tendo sido retirado de uma das últimas frases ditas pelo pai de Rick Smith antes de morrer. Fosse dita em 1994 e teria sido profética. Em 2016, ainda é um mistério por desvendar (será o futuro de todos nós radiante?), assim como é um mistério aquilo que aqui se ouve.
É que desde sempre que os Underworld foram evoluindo em termos de sonoridade, pé ante pé; começaram como uma simples banda synthpop, descobriram o negrume techno em Dubnobasswithmyheadman (1994), passaram para o trance em Beaucoup Fish (1999), deep house em A Hundred Days Off (2002) e… tudo misturado, em Barking (2010). Dois passos à frente, sempre, e o melhor de tudo, imprevisíveis. Pois bem, imprevisível foi também a direcção tomada neste novo álbum – mas que se apresenta, infelizmente, como um passo atrás.
O primeiro single, “I Exhale”, que é também a primeira faixa de Barbara Barbara…, deixou logo à partida um sabor amargo na boca quando saiu, em janeiro: um ritmo pós-punk electrónico, sintetizadores graves e uma entrega vocal de Karl Hyde a assemelhar-se a uma paródia de Ian Curtis. É um tema eminentemente mau – mas, talvez, o disco soubesse alumiar novamente o caminho. Puro engano.
Se a entediante “If Rah” melhora a partir do momento em que são ouvidos os sempre deliciosos teclados house, “Low Burn”, faixa techno sem sal, arruina o momento; os motifs latinos de “Santiago Cuatro” parecem estar aqui por favor, como uma qualquer prova de ecletismo; “Motorhome” é um sono profundo, mas nem sequer um sono bom – só uma espécie de música de supermercado, presente mas ausente; “Ova Nova” e “Nylon Strung”, ambas um claro acenar ao passado (a primeira podia ser um lado B de “Jumbo”), pouco fazem para alterar a tendência e o veredicto. Barbara Barbara, We Face A Shining Future não se limita a ser um mau disco; é uma desilusão tremenda da parte de alguém que nunca havia desiludido, seja com que roupagem fosse. É pena. Talvez seja melhor não voltarem a fazer pausas de seis anos.