Um belo disco instrumental, que evoca África a partir de Lisboa, habitando o espaço deixado vago pelo discurso dos Dead Combo.
O ano de 2022 foi particularmente rico e interessante na música instrumental made in Portugal, talvez até mais do que nos registos de canção. Um dos exemplos dessa riqueza são os Club Makumba, banda recente e que teve neste ano a sua primeira incursão pelos discos. O álbum homónimo chegou logo no princípio do ano e serviu de banda sonora durante todos os meses seguintes.
Em termos emocionais, o registo não foge muito ao que nos foi dado pelo saudosos Dead Combo, o que não é de estranhar dada a presença de Tó Trips na guitarra dos Club Makumba, juntamente com João Doce na bateria, Gonçalo Leonardo nos baixos e Gonçalo Prazeres no saxofone. E talvez seja aqui, no saxofone, que encontramos a maior novidade no som desta banda, já que o marca de forma indelével: seja a solar seja nos acordes pesados à la Morphine.
A descrição dos próprios apontam-se como “Um estreito de influências numa fusão de cartografias rock, guitarras das costas do sul, ritmos quentes do norte de áfrica, varridos por espíritos que vagueiam no ar e nas dunas do jazz, melodias e afinações antigas, que chegam até nós em tempestades de poeira eléctrica”. Tudo isso habita por aqui, de facto, mas há aqui menos sol do que se possa pensar, pesado pelo fumo e por uma opressão mais urbana e menos dada aos grandes espaços livres.
Esta estreia dos Club Makumba, como quase toda a música instrumental, ganha em coerência aquilo que se perde em distinção, dando-nos um todo que deve ser consumido por inteiro, e não necessariamente este ou aquele tema que se eleve acima dos demais e se insinue em audições repetidas obrigatórias. O palco acabou por ser uma casa natural para este projecto, lugar onde esta jam planeada teve a oportunidade de se soltar ainda mais, para territórios inexplorados.
Numa apreciação geral temos aqui um trabalho muito bem feito, com quatro belos músicos, que vão de Tânger a Acra, mas sempre do ponto de vista de uma Lisboa urbana e contemporânea.