Comecemos pela fineza de apresentar sua senhoria: Cavalheiro é o mui nobre alter-ego do songwriter portuense Tiago Ferreira, a espalhar o seu obséquio desde 2010. Nesse ano assinou o longa-duração Primeiro, uma espécie de Bill Callahan à Gomes de Sá, com o que isso tem de crueza lo-fi com salsa e azeitonas. Seguiram-se vários EPs (a maioria no mesmo trilho semi-acústico e experimental) até que em 2015 surge este segundo álbum Mar Morto, sem dúvida o seu registo mais cuidado e maturo. Há agora uma sensibilidade pop assumida, com melodias bonitas e refrões que ficam no ouvido. Os arranjos são de muito bom gosto, invocando o estado da arte do indie rock: dos Blur aos Franz Ferdinand, dos Arctic Monkeys aos Interpol.
Ao mesmo tempo, mantém-se a habitual imagem de marca de Cavalheiro: a sua eterna melancolia. O tom é mais sombrio do que o costume porque o disco é dedicado do princípio ao fim ao balanço de um coração destroçado (uma tradição tão velha como a própria música pop). A voz poderia ser mais carismática e as letras mais cuidadas – ainda falta muito para Mar Morto ser o Blood on The Tracks – mas, pela sua brutal sinceridade, é um disco que merece o nosso total respeito.
Continuaremos a seguir com interesse a música do mais melancólico gentil-homem das margens do douro.
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