No espaço de apenas dois discos, em dois anos, os Cassete Pirata deram um salto gigante, alcançaram num instante uma maturidade que muitas bandas demoram cinco álbuns a alcançar. Lançaram agora A Semente, um disco conceptual, de preocupações ambientais, assente em rock da mais portuguesa tradição.
O disco começa com “A Raiz” que é canção que arranca apenas com a voz de um homem, com eco nos montes e vales de um país com 900 anos. A certa altura entram uns tambores, tribais, ancestrais. Juntam-se umas guitarras que podem ser eléctricas mas soam a braguesas, acaba com uma parede de som e coros. E não sabemos em que Era estamos, sabemos apenas a que território isto pertence. E assim, em pouco mais de quatro minutos e uma só canção, está representada uma nação e seu cancioneiro intemporal.
Está dado o tom do álbum e as restantes músicas comprovam precisamente isso. Com inspiração internacional em bandas seminais dos anos 70, a grande força deste disco vem dos mestres da nossa terra: Zeca, Zé Mário, Fausto. Mas em vez de cristalizar, os Cassete Pirata pegam nessa influência, actualizam e transfiguram, para criar algo muito próprio, dentro das regras pop-rock do século XXI mas com alma profundamente portuguesa intemporal.
Como nos contou o vocalista em entrevista, a narrativa é toda em volta de preocupações ambientais, sobre o estado do planeta que os nossos pais nos deixaram e como é que nós vamos deixar para os nossos filhos. É um tratado universal, que revela preocupação sem entrar em pânico, admite algum desencanto mas sem ser desolador e aponta caminhos mas sem ser moralista.
A Semente é um documento que merece ser tido em formato físico, vinil de preferência, em que o livro com as letras vale como obra poética independente, em que cada canção sobrevive perfeitamente como single isolado mas, enquanto obra de arte, merece ser sorvido do princípio ao fim sem moderação e deve ser guardado na melhor estante, ao lado de enciclopédias e livros de História.