Canção do dia: Silver Dagger – White Antelope

O berço de “Silver Dagger” é incerto. A balada folk tradicional provavelmente remota a alturas dos avós dos avós dos nossos avós – crendo-se que aterrou na América vinda de terras britânicas. Um verdadeiro artefacto histórico, a cantiga de uma rapariga que recusa os avanços de um amante pelo advento dos conselhos da mãe, tem até duas versões: “Katy Dear”, consideravelmente menos popular, reconta o acontecimento na perspectiva masculina.

“Katy Dear” certamente perdeu a corrida quando a futura madrinha do folk americano fez as cordas da guitarra e da voz soar a versão oposta. Joan Baez gravou a sua versão de “Silver Dagger” em 1960, tornando-a sua para sempre. Os seus dedilhados velozes fundem-se na perfeição com a sua voz melancólica e celestial.

No século seguinte, chegou a vez de ser Robin Pecknold, líder irrefutável dos Fleet Foxes, a pegar no tema. Seria, certamente, mais do que a centésima vez que o triste poema seria entoado por alguém que não o fantasma perdido na história que o escreveu ou pela própria Joan Baez: mas Pecknold não é só alguém. Até há pouco tempo, a sua barba farta e cabelo comprido– assim como a sua afinidade por uma América de outrora, expressa pelas suas melodias e letras que parecem nunca chegar a pertencer ao século XXI – faziam-no parecer uma figura um pouco perdida na história. O seu gosto pelo tradicional revelou-se particularmente promissor quando deambulou para longe das outras raposas durante um pouco (mais precisamente, 2009) e dedicou parte do seu tempo a emprestar a voz a músicas escritas por outros. Enquanto White Antelope, Pecknold encontra-se sozinho no palco, escondido por detrás de uma simples guitarra e de uma enorme voz. E é esta sua voz, uma voz na qual não se acredita até ouvir, uma voz que desagua da sua garganta com a facilidade de um rio, que torna a sua versão de “Silver Dagger” uma para ser recordada ao lado da de Baez. Quando Robin canta, nós acreditamos. E aceitamos as suas desculpas.