Scott Walker move-se pelo mundo da música como um extraterrestre. Depois de tomar as rédeas, nos anos sessenta, dos Walker Brothers, foi a vez de uma sucessão anual de discos a solo até ao final da década. O resto é história. Desde a reunião e colapso final da primeira banda nos anos setenta, ao regresso solitário ao microfone nas décadas que viriam, ao trabalho com bandas tão variadas como Pulp, Bat For Lashes ou Suun O))), à composição de bandas-sonoras, Walker caminha como sempre caminhou e direcção ao futuro, agora com mais de setenta anos: sempre do lado errado (mas tão certo) do passeio.
É no maduro ano de 1967, em pleno voo a solo, que surge “Always Coming Back To You”. Descrever o tema, como descrever grande parte do trabalho de Walker, revela-se uma experiência complicada: é uma melodia tão bela quanto feia, tão grande como bizarra, tão romântica como sinistra. A sua voz grave de veludo parece fugir ao tom que a guitarra afrancesada lhe desenha pela frente: a confusão está instaurada. Mas ao chegar ao refrão – com o monumental “When you kiss my eyes away…” – tudo parece cair no sítio certo como por milagre. É um Brel marciano que acaba por se encontrar a si próprio nas ruas de Londres que mais parecem as de Paris. Um tema tão gigante como bizarro, que vicia como cigarros ou palavras cruzadas. Tema este cuja guitarra que lhe dá início num deslize certeiro, curiosamente, foi usada como sample exactamente quarenta anos depois por outro músico que sabe um pouco sobre fazer música do avesso – por mais ninguém senão Panda Bear, na maravilhosa “Take Pills”, de Person Pitch (2007).