Dá ares a percussão inicial da virtude do ritmo. Estremecem as pulsações extáticas o peito e motivam ao headbang ameno, e desenvolve por belicosas texturas aveludadas, as cordas metálicas gritam para que o acorde baixo não se cale, e vice-versa, e é simbiótico, porquanto Sacha Got de laivos psicodélicos, enfim, Serguei não é alheio a esta criação, entoa o solar sensacionismo que a orgânica composição exige enquanto acompanhada da planche nas orlas e ondas marítima. O que aparentemente se refere a surf é idoneamente extrapolado para a ideia do paradeiro da sensação, onde está?, como se encontra? Ironicamente é a faixa «Sur la Planche 2013» a referência neo-psicadélica para o tropicalismo; a tropicália que reencontra aqui o seu propósito primeiro, o êxtase da sensação, o embevecimento com a ambiência estival, o frenético regozijo dos pais Mutantes e Veloso e suas psicotropias. «Je recherche des sensations», afirma, no fim. Não há mais que procurar, porquanto a música não pode ficar mais empírica do que isto.
Canção do Dia: Sur la Planche 2013 – La Femme

Diogo Montenegro
Diogo de nome, Montenegro como apelido, intencionalmente confundido por «pontonegro» ou «montepreto» de forma recorrente, teve como maior arrependimento a sua inscrição no IST em 2013; assim, como recompensa, um miminho egoísta, gesticulou um manguito para o prezado instituto, e como maneira de viver engoliu cursos de revisão literária à boca rota e escreveu críticas e reportagens com maior parcimónia no ano lectivo transacto. É inferível portanto, que se passe a vulgaridade, que é um «ser de muitas contradições»: além do ódio a clichés, candidatou-se neste ano escolar a Artes e Humanidades na FLUL e dá explicações de matemática. (Curioso.) É ainda apologista do acordo ortográfico de 1945. Que o ecletismo não se gaste tão cedo. Nem a boa música.