Em tempos dei por mim numa feira de rua a vasculhar numa banquinha de vinis em segunda mão e em óptimo estado. A montra estava recheada de discos dos anos 60, 70 e inícios de 80 e eu levei ali o tempo necessário até escolher II dos Zeppelin e Meus Caros Amigos do Buarque para levar para casa. Não satisfeita, e um tanto ou quanto intrigada com a quantidade de discos que desconhecia, desafiei o Sr. Alberto – o dono daquilo tudo – para eleger por mim o terceiro disco, que queria levar às cegas.
Sem muitas hesitações deu-me para a mão o álbum homónimo dos Secos & Molhados. O nome dizia-me qualquer coisa e o Sr. Alberto explicou-me que foi a primeira banda de Ney Matogrosso, antes de se transformar em “O” Ney Matogrosso, e que o disco era “simplesmente belíssimo”. O Sr. Alberto estava seguro e eu juntei o disco ao saco.
Em casa, estou confortavelmente no sofá enquanto o disco gira pela primeira vez. Toca o telefone de casa: estava na hora do telefonema Sra. minha Mãe, que já fugiu deste país. Começo a contar a aventura na banquinha do Sr. Alberto quando, de repente, oiço do outro lado: “Jurei mentiras e sigo sozinho. Assumo os pecados uh uh uh uh”. Sorri. Ela sabia perfeitamente que disco era aquele e hoje, “Sangue Latino” é uma das músicas que mais toca quando estou sozinha, longe da minha mãe.
Obrigada Sr. Alberto.