E ao sétimo disco, Boss apresenta-se ao mundo nos seguintes preparos: rabo em primeiro plano, calças de ganga feitas à medida, o boné de baseball a piscar-nos o olho e ao fundo a bandeira dos Estados Unidos da América. O “patrão” estava de volta.
Decorria o ano de 1984 e para trás tinham ficado a tour intensa de The River (1980), bem como a sua obra-prima acústica, Nebraska (1982), numa fase brilhante da carreira musical de Bruce Springsteen. E agora, com toda a vontade de quem quer continuar musicalmente a brilhar, Springsteen saca do armário o seu par de calças mais sexys, enquanto põe uma América inteira de pulmões cheios de ar a cantar “Born in The USA”, a história de um veterano da guerra do Vietname, de alma vazia, e a sua luta constante pela reintegração na sociedade. Com coragem para meter o dedo na ferida, e sem temer qualquer tipo de represálias, a partir deste momento, Boss transformava-se no verdadeiro operário do rock, o porta-voz da classe media americana, de ordenados demasiado curtos para a extensão do calendário, de sonhos esmagados pela realidade, de calças de ganga por lavar. Esta é a América de Bruce, filho de New Jersey, abraçado pelas pessoas não por ser maior do que a vida, mas por ser precisamente igual a todas elas.
Ao todo foram sete os singles de Born in The USA que chegaram aos primeiros dez lugares dos tops do mundo. A saber – e para além da faixa-título – “My Hometown”, a balada que nos remete às nossas origens; “Glory Days”, sobre os divorciados e desempregados desta vida a carpir com ele num bar; “Dancing in the Dark” e “I’m Going Down”, porque sabe sempre melhor dançar do que chorar a dor de um coração partido; “I’m on Fire”, onde ficamos a conhecer os desejos mais íntimos de Bruce; e “Cover Me”, inicialmente escrita para Donna Summer, mas que já não conseguiu oferecer. E se ao escrever tais canções, o cantautor apenas tenta entender e partilhar o sentido da vida, Boss juntou às suas belíssimas histórias o mais puro e simples do rock & roll americano, acrescentando-lhe as texturas da pop dos anos 80, dos ritmos marcados, dos acordes orelhudos e dos refrões contagiantes, os ingredientes perfeitos para a criação de verdadeiros hinos.
O resultado? O disco mais bem-sucedido de Bruce Springsteen e um dos álbums mais vendidos de sempre da história da música, apenas superado na altura por artistas como Michael Jackson ou Prince. Êxito após êxito, Springsteen rompeu com o rótulo que tantas vezes o aproximava a Dylan, elevando Born in The USA a clássico. O seu rabo, esse será para sempre lembrado como o rosto do manual do pop-rock americano, a seguir da primeira à última canção.