Fantasy é o melhor momento de estúdio dos M83, alter-ego do francês Anthony Gonzalez, desde o seminal Hurry Up, We’re Dreaming, de 2011. Os fãs de sempre redescobrem a força de canções meio caminho entre a pop eletrónica e o rock de vistas largas – a menos boa notícia é que ainda não é desta que os indiferentes se converterão.
Sintetizadores e guitarras vão a jogo, encontram-se com a voz de Anthony Gonzalez – há shoegaze metido ao barulho, camadas de sons, música orgânica. São isto os melhores M83, que conhecemos há mais de dez anos em três ou quatro discos muito inspirados – e que em anos recentes, nomeadamente no álbum Junk, caminharam mais para o sono e menos para o sonho. Erro.
Fantasy recentra a bola a meio campo e o jogo recomeça. Uns dirão que é mais do mesmo, outros que o melhor está lá atrás – a verdade está algures a meio caminho. Sim, não há revoluções na sonoridade dos M83, sim, inquestionavelmente há trabalhos melhores lá atrás, mas atenção: há aqui canções inspiradas e que, para os devotos de sempre, permitem o reacender da chama, como num amor aparentemente perdido.
Nunca nos zangámos com Anthony Gonzalez e os M83, mas já há anos que não lhes ouvíamos um ‘hat-trick’ como a sequência “Water Deep”, “Oceans Niagara” e “Amnesia”, as primeiras de Fantasy. Um instrumental de entrada, a preparar-nos para a viagem; um ‘single’ eficaz, guitarras ao alto; “Amnesia” a lembrar “Reunion”, refrão orelhudo, guitarra anos 1980 à Springsteen (ou à anos 2020 modo War on Drugs), tudo certo.
A bitola global das demais dez canção não está ao nível das faixas iniciais, mas não há embaraços ou momentos anódinos. Os fãs de sempre vão gostar e muito, o encantamento não chegará, contudo, a novos ouvintes – nada de errado há nisso.